Lev Vygotsky: Vida e obra
Psicologia

Lev Vygotsky: Vida e obra


Lev Vygotsky
A obra do psicólogo ressalta o papel da escola no desenvolvimento mental das crianças e é uma das mais estudadas pela pedagogia contemporânea. Lev Vygotsky morreu há mais de 70 anos, mas sua obra continua em pleno processo de descoberta. Para compreender o direcionamento de sua obra, é necessário compreender um pouco o percurso vivido por ele, bem como o contexto histórico e social em que ele está inserido.
"O saber que não vem da experiência não é realmente saber" Lev Vygotsky
Lev Semenovitch Vygotsky, nascido em 1986, em Orsha, Bielo-Rússia, descendente de uma família de origem judaica, viveu sua infância em Gomel, com os pais e sete irmãos. Até os 15 anos sua educação ocorreu em casa, acompanhada pelo tutor Solomon Asphiz e era amante das artes e literatura, aos 17 anos completou o curso secundário, recebendo medalha de ouro por seu brilhante desempenho. Por ser judeu, enfrentou dificuldades para ingressar no curso superior, iniciando seus estudos no curso de Medicina, tendo um mês depois se transferido para os cursos de Direito e Literatura.

Começou sua carreira profissional aos 21 anos, tendo seu interesse pela Psicologia surgido a partir do contato com crianças portadoras de problemas congênitos, onde estudava os problemas neurológicos das mesmas para compreender o funcionamento psicológico do homem. 1924 é um marco em sua carreira, quando ele se dedicou de forma mais sistemática ao estudo da Psicologia, tendo realizado palestra no 2º Congresso Psiconeurológico e causando espanto e admiração em pesquisadores renomados, abordando idéias acerca do estudo do comportamento consciente humano, uma vez que a Psicologia estava dividida em duas tendências: o grupo ligado à filosofia empirista e outro grupo, fundamentado na filosofia idealista, onde Vygotsky busca superar essa situação usando o método dialético marxista ao apresentar a palestra sobre "A Metodologia da Investigação Reflexológica e Psicológica", propondo uma Psicologia de caráter materialista.

Durante uma década de trabalho, Vygotsky e seu grupo tróica, se dedicaram à construção de uma nova Psicologia, abordando diferentes temas relacionados ao desenvolvimento humano. Vygotsky lecionou literatura, estética e história da arte e fundou um laboratório de psicologia - área em que rapidamente ganhou destaque, graças a sua cultura enciclopédica, seu pensamento inovador e sua intensa atividade, tendo produzido mais de 200 trabalhos científicos. Em 1925, já sofrendo da tuberculose (o que em momento algum lhe tirou a tenacidade e a obstinação) que o mataria em 1934, publicou A Psicologia da Arte, um estudo sobre Hamlet, de William Shakespeare, cuja origem é sua tese de mestrado. 

A parte mais conhecida da extensa obra produzida por Vygotsky em seu curto tempo de vida converge para o tema da criação da cultura. Aos educadores interessa em particular os estudos sobre desenvolvimento intelectual. Vygotsky atribuía um papel preponderante às relações sociais nesse processo, tanto que a corrente pedagógica que se originou de seu pensamento é chamada de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo. A obra do psicólogo ressalta o papel da escola no desenvolvimento mental das crianças e é uma das mais estudadas pela pedagogia contemporânea.

Surge da ênfase no social uma oposição teórica em relação ao biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), que também se dedicou ao tema da evolução da capacidade de aquisição de conhecimento pelo ser humano e chegou a conclusões que atribuem bem mais importância aos processos internos do que aos interpessoais. Vygotsky, que, embora discordasse de Piaget, admirava seu trabalho, publicou críticas ao suíço em 1932. Piaget só tomaria contato com elas nos anos 1960 e lamentou não ter podido conhecer Vygotsky em vida. Muitos estudiosos acreditam que é possível conciliar as obras dos dois.
"Uma palavra que não representa uma idéia é uma coisa morta, da mesma forma que uma idéia não incorporada em palavras não passa de uma sombra." Lev Vygotsky
Relação homem-ambiente
Os estudos de Vygotsky sobre aprendizado decorrem da compreensão do homem como um ser que se forma em contato com a sociedade. "Na ausência do outro, o homem não se constrói homem", escreveu o psicólogo. Ele rejeitava tanto as teorias inatistas, segundo as quais o ser humano já carrega ao nascer as características que desenvolverá ao longo da vida, quanto as empiristas e comportamentais, que vêem o ser humano como um produto dos estímulos externos. Para Vygotsky, a formação se dá numa relação dialética entre o sujeito e a sociedade a seu redor - ou seja, o homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem. Essa relação não é passível de muita generalização; o que interessa para a teoria de Vygotsky é a interação que cada pessoa estabelece com determinado ambiente, a chamada experiência pessoalmente significativa.

Segundo Vygotsky, apenas as funções psicológicas elementares se caracterizam como reflexos. Os processos psicológicos mais complexos - ou funções psicológicas superiores, que diferenciam os humanos dos outros animais - só se formam e se desenvolvem pelo aprendizado. Entre as funções complexas se encontram a consciência e o discernimento. "Uma criança nasce com as condições biológicas de falar, mas só desenvolverá a fala se aprender com os mais velhos da comunidade", diz Teresa Rego. 

Outro conceito-chave de Vygotsky é a mediação. Segundo a teoria vygotskiana, toda relação do indivíduo com o mundo é feita por meio de instrumentos técnicos - como, por exemplo, as ferramentas agrícolas, que transformam a natureza - e da linguagem - que traz consigo conceitos consolidados da cultura à qual pertence o sujeito.
"O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa por outra pessoa" Lev Vygotsky
Zona de desenvolvimento proximal (ZDP)
Um fato empiricamente estabelecido e bem conhecido é que o aprendizado deve ser combinado de alguma maneira com o nível de desenvolvimento da criança. Entretanto tem-se atentado para o fato de que não podemos limitar-nos meramente à determinação de níveis de desenvolvimento se o que queremos é descobrir as relações reais entre o processo de desenvolvimento e a capacidade de aprendizado e para isso é preciso determinar pelo menos dois níveis:
Compreender o processo ensino-aprendizagem, fator intrinsecamente envolvido neste processo, requer um profundo conhecimento de como o ser humano desenvolve e processa a cognição. Dessa forma, segundo Vygotsky, identificar os dois níveis e trabalhar o percurso dos mesmos em cada aluno, são as principais e necessárias habilidades que um professor precisa ter.

Para ele, a intervenção pedagógica provoca avanços que não ocorreriam espontaneamente. Ao formular o conceito de zona proximal, Vygotsky mostrou que o bom ensino é aquele que estimula a criança a atingir um nível de compreensão e habilidade que ainda não domina completamente, "puxando" dela um novo conhecimento. "Ensinar o que a criança já sabe desmotiva o aluno e ir além de sua capacidade é inútil", diz Teresa Rego. O psicólogo considerava ainda que todo aprendizado amplia o universo mental do aluno.

O ensino de um novo conteúdo não se resume à aquisição de uma habilidade ou de um conjunto de informações, mas amplia as estruturas cognitivas da criança. Assim, por exemplo, com o domínio da escrita, o aluno adquire também capacidades de reflexão e controle do próprio funcionamento psicológico.

Um vídeo que esclarece bem suas principais idéias, vale a pena assistir:

Leia um pouco mais:
A Formação Social da Mente, Lev S. Vygotsky.
Vygotsky - Aprendizado e Desenvolvimento, Marta Kohl de Oliveira.
Vygotsky - Uma Perspectiva Histórico-Cultural da Educação, Teresa Cristina Rego.
Vygotsky - Uma Síntese, René van der Veer e Jaan Valsiner.

Fontes: Nova Escola
Experiências e Diálogos a serviço da educação




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