Psicólogo Social-Prefeitura de Itabira 2008
Psicologia

Psicólogo Social-Prefeitura de Itabira 2008


Questão 37


Mariano e Muniz (2006) recorrem às contribuições da psicodinâmica do trabalho para analisar a relação entre saúde mental e trabalho das professoras da segunda fase da rede pública do município de João Pessoa (PB).
De acordo com essa abordagem, assinale com V as afirmativas verdadeiras e com F as falsas.

( V) A saúde é, antes de tudo, um fim, um objetivo a ser alcançado.
( V) A saúde, tanto quanto o próprio trabalho, estão por se construir cotidianamente.
( F) O estado de bem-estar social e psíquico é alcançado por meio de um processo composto por dispositivos de regulação que tanto o estabilizam quanto o mantêm.
( F) Saúde mental caracteriza-se pela ausência de sofrimento, por um estado de bem estar social e psíquico.


Segundo Mariano e Muniz (2006) Para os pesquisadores da psicodinâmica do trabalho (DEJOURS et al, 1993), a saúde é, antes de tudo, um fim, um objetivo a ser conquistado. O estado de bem-estar social e psíquico não é entendido como um processo estável, que, uma vez atingido, seja possível de ser mantido, mas como algo de que procuramos constantemente nos aproximar. O ser humano, de forma geral, possui capacidades de variações, tanto orgânicas como psíquicas. Estas variações se apresentam como dispositivos de regulações, já que o organismo humano vive em constante movimento.

A saúde mental, de certa forma, não significa ausência de sofrimento ou de angústia, nem conforto constante e uniforme, pois existem pessoas que, mesmo angustiadas, estão com boa saúde. Neste sentido, “a angústia aparece como um motor, uma força que impulsiona a ação. A angústia contribui, assim, para a formulação dos objetivos, das metas, que uma vez atingidos, atenuam a angústia, mas não a impedem de ressurgir em seguida” (DEJOURS et al, 1993, p.101). O engajamento dos sujeitos nas relações sociais e no trabalho é o que permite contornar as sensações de angústias, provenientes do interior, da história passada dos sujeitos sociais.

No estudo as professoras ao serem abordadas sobre sua saúde no trabalho, parte delas informam que quase não pensam sobre isso, alegando terem pouco tempo para pensar em saúde no trabalho, pois a intensa jornada e a sobrecarga impedem que os mesmos atentem para essa questão mas que o exercício da profissão docente é composto de fatores que comprometem sua saúde física e mental, causando-lhes sofrimento e desgastes que desencadeiam doenças somáticas e psíquicas ou psicossomáticas.

Além disso, algumas professoras afirmam que, após terem ingressado na atividade docente, tiveram alguma complicação no seu quadro de saúde e atribuem o motivo de seu adoecimento às pressões vivenciadas no exercício do magistério, portanto, o acúmulo destas pressões acarreta danos para a saúde dessas trabalhadoras. As Professoras convergem ao informar sobre o aparecimento de alguns sintomas e doenças que se apresentam com maior freqüência no exercício do magistério, tais como: dores musculares, gastrite, problemas na voz (laringite, faringite), alergia, problemas cardiovasculares, cefaléia.


Outro aspecto enfatizado por uma professora é que o trabalho, mesmo com condições desfavoráveis e adversas que comprometem a saúde, também pode se apresentar como um meio de descarregar as tensões do dia-a-dia.

Dentre as dificuldades e pressões vivenciadas como propiciadoras de tensão existentes no trabalho das docentes, chamamos atenção para as seguintes: sobrecarga de trabalho, ausência de material e recursos didáticos (condições de trabalho), clientela assistida (superlotação), não reconhecimento da parte do aluno e desvalorização do magistério.

Diante das pressões existentes na organização do trabalho, as professoras, de forma diversificada, apresentam um conjunto de sentimentos que envolvem a angústia, desgosto, raiva, desesperança, desmotivação, cansaço e estresse. A presença desses sentimentos dá lugar à vivência do sofrimento psíquico na atividade docente, ameaçando desta forma a saúde das trabalhadoras.

Na medida em que as professoras pesquisadas desenvolveram estratégias para suas atividades no trabalho, elas buscaram, na verdade, formas para transformar o sofrimento, canalizando-o para uma vivência de prazer no trabalho. Percebe-se, portanto, que algumas professoras, mesmo trabalhando em condições adversas, expressam o desejo de um comprometimento profissional, em exercer sua atividade guiadas pelo interesse e prazer, o que lhes permite dar um maior sentido e identificação com sua prática educativa.

Porém, verificamos que as professoras desenvolvem estratégias para lidar com estas situações conflituosas como forma de amenizar o sofrimento. Dentre elas, destacamos: descontrair-se mais com os alunos (cantar, conversar, brincar); propostas de trabalho com a equipe técnica e professores que focalizam o alunado e outras dificuldades presentes no trabalho. A busca dessas regulações favorece que as professoras transformem a situação angustiante em força propulsora de mudança.

Identificamos, a partir do relato das professoras, que a relação com os alunos é ambígua, pois da mesma forma que se indica como fonte de sofrimento, a mesma é indicada como fonte de prazer. Como podemos observar, a vivência do prazer no trabalho se apresenta como o único meio viável de enfrentar o sofrimento presente na situação de trabalho. Portanto, verificamos que, apesar das adversidades existentes, as professoras buscam e constroem entre si estratégias, que contribuem para o exercício e manutenção da saúde no trabalho docente.

Referência:

MARIANO, Maria do Socorro Sales e MUNIZ, Hélder Pordeus. Trabalho docente e saúde: o caso dos professores da segunda fase do ensino fundamental. Estud. pesqui. psicol. [online]. jun. 2006, vol.6, no.1 Disponível em http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812006000100007&lng=pt&nrm=




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