Os primeiros conflitos aparecem na universidade, como constatou a tese de doutorado da psicóloga Marta Helena de Freitas, defendida na Universidade de BrasÃlia (UnB), em 2002. Intitulada ''Crença religiosa e personalidade em estudantes de Psicologia'', a pesquisa foi realizada com 52 alunos do curso de Psicologia da Universidade Católica de BrasÃlia. ''Na faculdade, o estudante aprende que tudo em que ele acredita é uma doença, e ele tem receio de ser criticado ao assumir sua religião'', destaca. Os mais conflitados são os que seguem desde a infância uma doutrina imposta pela famÃlia. Aqueles que fizeram uma escolha própria lidam melhor com a situação.
Deixar de lado crenças pessoais na hora de clinicar é a chave para não misturar valores próprios aos problemas que o paciente revela no divã. Mas nem todos aceitam essa prescrição. Uma onda iniciada nos Estados Unidos com terapeutas ligados a grupos religiosos surgiu há alguns anos, propondo-se, entre outras coisas, a ''curar'' gays - embora o homossexualismo não seja mais considerado doença, e as supostas mudanças de orientação sexual apresentadas como resultado dos tratamentos nunca tenham sido provadas.
Ser praticante de uma religião ou não é uma questão pessoal do profissional, mas tentar influenciar o paciente para seguir alguma crença é falta de ética considerada gravÃssima, como explica a presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP), Ana Bock. ''Se houver uma denúncia sobre essa conduta, o profissional poderá receber desde uma advertência até ter seu registro cassado. Ana diz que vem aumentando o número de processos éticos nos quais o psicólogo é acusado de pressionar o paciente a adotar sua perspectiva religiosa. Por outro lado, segundo ela, também cresce o número de especialistas que buscam orientação sobre como colocar de lado sua crença na hora da consulta. ''De cada dez casos, dois envolvem questões de orientação inadequada em relação à religião. Há cinco anos, essas denúncias nem apareciam.''
Para Ana Bock, entidades religiosas como a Associação Católica de Psicólogos e Psiquiatras, com 800 membros, e a Associação Brasileira de Psicólogos EspÃritas (Abrape), com 478 integrantes, são interessantes canais de debate. No entanto, para não restar dúvida do espaço que a religião deve ocupar no trabalho terapêutico, um novo código de ética da categoria será lançado em 2005.
“Art. 2º – Ao psicólogo é vedado: b) Induzir a convicções polÃticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercÃcio de suas funções profissionais;â€(CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO,2005)
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG63796-6014,00-A+RELIGIAO+NO+DIVA.html (2004) .Acesso 19 de janeiro de 2009.
CONSELHO FEDERAL, Psicologia. Código de Ética Profissional do Psicólogo. BrasÃlia: CFP, 2005.
FRANKL, V.E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração.