Psicologia
A crise da psiquiatria contemporânea e o poder das psicoterapias
Segundo o psiquiatra Richard Friedman, no excelente artigo "Psychiatry’s Identity Crisis", publicado pelo New York Times no último dia 17 de Julho, a psiquiatria contemporânea se encontra em uma crise - mais uma, dentre tantas pelas quais passou desde sua criação no século XIX. Segundo Friedman, ao mesmo tempo que as pesquisas em neurociência não trouxeram qualquer retorno significativo para a prática clÃnica em psiquiatria, como muitos esperavam, os medicamentos (base do tratamento psiquiátrico moderno) evoluÃram muito pouco desde as décadas de 50 e 60, quando os primeiros remédios psiquiátricos foram lançados, e continuam tendo como alvo os mesmos receptores e neurotransmissores no cérebro que seus precursores (certamente os medicamentos modernos geram menos efeitos colaterais que os mais antigos, no entanto, seus efeitos "positivos" continuam basicamente os mesmos, a despeito do que diz a indústria farmacêutica). Ou seja, a esperança de que as pesquisas iniciadas na "década do cérebro" resultassem em consideráveis avanços para a clÃnica não se concretizou. Mesmo terapias biológicas modernas como a Estimulação Magnética Transcraniana tem mostrado efetividade limitada - além disso, trata-se de um método invasivo sobre o qual pouco se sabe a respeito de sua segurança a longo prazo.
Uma possÃvel saÃda para este impasse passaria, surpreendentemente, por um retorno à s psicoterapias. Segundo Friedman, inúmeros estudos tem apontado para o tratamento psicoterápico como sendo tão eficaz quanto as medicações psicotrópicas para os transtornos psiquiátricos comuns, como depressão e ansiedade. Além disso, segundo o autor, a maioria dos norte-americanos prefere, claramente, psicoterapia do que medicação - de acordo uma meta-análise realizada pelo pesquisador R. Kathryn McHugh e seus colaboradores, os pacientes pesquisados eram três vezes mais propensos a preferir psicoterapia do que drogas psicotrópicas. Friedman aponta, no entanto, que apesar de uma maior preferência geral, as pessoas tem se dedicado cada vez menos aos tratamentos psicoterápicos em função de seus elevados custos e da baixa disponibilidade de profissionais nos ambulatórios (pelo menos nos Estados Unidos). Ao mesmo tempo, o uso de medicações psiquiátricas tem aumentado consideravelmente ao longo dos anos, o que aponta para um abismo entre o tratamento que as pessoas desejam ter e aquele que, de fato, possuem condições de arcar.
Finalmente, aponta Friedman, muitos dos pacientes que chegam os consultórios psiquiátricos possuem um histórico de trauma, abuso sexual, pobreza ou privação, problemas para os quais não há qualquer solução biológica possÃvel. Da mesma forma, questiona o psiquiatra, seria equivocado conceber problemas como a depressão e a ansiedade meramente como problemas cerebrais passÃveis de intervenção medicamentosa. Segundo ele. "o fato de todos os sentimentos, pensamentos e comportamentos necessitarem da atividade do cérebro para acontecer não significa que a única ou a melhor forma de mudá-los - ou entendê-los - é com a medicina". Isto significa que nem sempre os transtornos psiquiátricos podem ser adequadamente tratados com terapia biológica. Os transtornos de personalidade, por exemplo, seriam geralmente pouco responsivos a medicações psicotrópicas, mas muito tratáveis com vários tipos de psicoterapia. Segundo Friedman, "muitas vezes não existe nenhum substituto para a auto-compreensão que vem com a terapia". Um psiquiatra, certamente, pode melhorar consideravelmente o humor e diminuir a frequência e a intensidade de quadros psicóticos de seus pacientes prescrevendo determinadas medicações. No entanto, como aponta Friedman, "não existe uma pÃlula - e provavelmente nunca existirá - para quaisquer dos problemas emocionais dolorosos e perturbadores a que estamos sujeitos, como raiva narcisista e ambivalência paralisante, para citar apenas dois". E é neste sentido que o autor finaliza seu texto dizendo que ainda que ele próprio seja extremamente favorável à pesquisa neurocientÃfica e acredite que entender o cérebro possa contribuir para o entendimento dos transtornos mentais, "nós somos mais do que um cérebro em um frasco. Basta perguntar a qualquer um que tenha se beneficiado de uma psicoterapia".
loading...
-
O Livro Definitivo Sobre A Ansiedade
Acabei de ler o livro Meus tempos de ansiedade: medo, esperança, terror e a busca da paz de espÃrito, escrito pelo jornalista Scott Stossel e recém-lançado no Brasil pela Companhia das Letras. Que livro fantástico! Não gosto muito da...
-
Antipsiquiatria E Cientologia: Uma Estranha Relação
Alguns de vocês já devem ter assistido - e até compartilhado nas redes sociais - documentários como o "Marketing da loucura" ou o "Psiquiatria: uma indústria da morte" ou então o "DSM: a farsa mais mortÃfera da Psiquiatria", mas...
-
Questões De Concurso - Psicanálise
Trt-São Paulo 200830. As terapias de orientação analÃtica, em princÃpio, são contra-indicadas para pacientes (A) com atrasos ou lacunas em tarefas evolutivas. (B) com traços de personalidade ou problemas caracterológicos...
-
O Que Funciona No Tratamento Da Depressão?
Há algum tempo, a depressão foi considerada o mal do século. Infelizmente este tÃtulo lhe faz jus, tendo-se em vista os enormes prejuÃzos sociais e laborais que este transtorno é capaz de gerar. EstatÃsticas recentes da Organização...
-
A Eficácia Dos Antidepressivos
Um artigo publicado em 2008 na PLoS causou certo tremor na comunidade cientÃfica, pois apontou que os antidepressivos da quarta geração, que incluem fluoxetina, venlafaxina, nefazodona, paroxetina, sertralina e citalopram, considerados inibidores...
Psicologia