“Ainda não existe um método que seja totalmente cientÃfico, e totalmente infalÃvel, para julgar candidatos a um emprego. É uma pena. Mas, se na sua próxima o RH adotar critérios que pareçam estapafúrdios, pelo menos você já sabe o que fazer. Diga o que eles querem ouvirâ€. [Essa doeu!]
Aparte alguns erros e gigantescas omissões (em especial da fonte dos dados citados), além do oportunismo e da superficialidade da reportagem (3 páginas apenas com muitos infográficos tolos), o jornalista acertou. Os psicólogos não têm um conhecimento efetivamente cientÃfico ou minimamente sólido para saÃrem por aà selecionando pessoas (e, por favor, não espalhem isso, pois a maioria das pessoas ainda acha que somos cientistas da mente e que sabemos mais sobre elas do que elas mesmas... precisamos manter as aparências e a aura de mistério em torno da nossa profissão, não? Senão quem confiará em nós e em nossas “super-técnicas ultra-cientÃficasâ€?). E eu falo isso enquanto um psicólogo que já participou de algumas seleções (enquanto estudante na empresa junior e, posteriormente, enquanto profissional), mas que atualmente não trabalha mais com isso, por razões ideológicas – vez por outra sou chamado para participar seleções e sempre recuso (tem coisas que o dinheiro nunca vai poder comprar: minha consciência é uma delas). Não acho justo nem ético, com o conhecimento cambaleante acumulado pela psicologia (e raquiticamente difundido por nossas faculdades), dizer quem entra e quem não entra em determinada empresa, ou pior, quem vai trabalhar e quem vai continuar desempregado. Sinceramente, os psicólogos (e eu me incluo nesta) podem achar que sabem alguma coisa – afinal, quem vive sem uma dose de auto-engano? – mas não sabem nada. Ok, podem a até saber alguma coisa, mas utilizar esse conhecimento ralo para selecionar pessoas é no mÃnimo anti-ético – e no máximo cruel.
Obviamente muitos não vão concordar comigo (principalmente aqueles que têm como ganha-pão a seleção de pessoal) e eu posso estar totalmente equivocado, mas é o que penso hoje. Certamente as seleções de pessoal vão continuar existindo e os psicólogos vão continuar participando delas (e, também, como se diz do traficante de drogas, se ele não fizer o trabalho sujo alguém vai fazer no seu lugar), mas eu quero continuar acreditando numa psicologia que vá além do ajustamento de pessoas. Que vá além da busca do “homem certo no lugar certoâ€. Uma psicologia que, de alguma forma, liberte! Não sei se isto é possÃvel e talvez todos sejamos ajustadores (no sentido empregado por Hilton Japiassu de “mudar o indivÃduo para não mudar a ordem socialâ€), mas se alguma área na psicologia está diretamente ligada a isso, certamente é a Psicologia Organizacional. Nela ficam claros todos os grandes erros e exageros da psicologia enquanto atividade prática de ajustamento e alienação...
Junte tudo isso com técnicas projetivas, de inspiração psicanalÃtica, e temos um gigantesco problema. Na minha opinião, um dos grandes erros da psicologia e dos psicólogos de hoje e de ontem é o que chamo de interpretose, isto é, o excesso de interpretação do mundo e das pessoas. Como bem aponta a revista, interpretação é sempre um processo subjetivo e nada cientÃfico. Não que a psicologia seja ou queira ser ciência (muito menos a psicanálise), mas acreditar que a interpretação de um teste como o Roschach é um processo objetivo e julgar uma pessoa com base nisso me parece muito complicado. Na clÃnica pode até trazer benefÃcios (ou não trazer malefÃcios), mas numa seleção de pessoal o buraco é mais embaixo. O que está em jogo é a subsistência de pessoas, muitas vezes desesperadas por um emprego. Esquecer disso é esquecer de algo fundamental.
Exatamente por isto é que, já há bastante tempo e cada vez mais, o teste psicológico é utilizado como mais um instrumento dentro de um amplo processo que envolve entrevistas, dinâmicas de grupo, provas de conhecimento e até os chamados processos trainee (dentre muitos outros), de forma que, se avaliar e selecionar pessoas é realmente necessário ao capitalismo, que isso seja feito da forma mais completa e honesta possÃvel. O problema é que, de qualquer forma, o processo de seleção de pessoal está sempre sujeito a interpretações subjetivas comprometedoras e – o que é pior - muitos profissionais não se dão conta disso. Acham que estão sendo cientistas-objetivos-imparciais quando, de fato, não estão... não percebem, como diz Ana Bock, que o que fazem não é psicologia, mas pura ideologia...
OBS: De acordo com pesquisa realizada em 2004 (e publicada em 2005) com 15 profissionais que trabalhavam com seleção de pessoal, as técnicas mais utilizadas por eles foram as seguintes:
Já os testes psicológicos mais utilizados foram os seguintes: