O ex-presidente americano George W. Bush (2001-2009) fez uma contribuição inesperada para a ciência quando se esquivou dos sapatos que foram atirados contra ele, em dezembro de 2008, em Bagdá, por um repórter iraquiano. A afirmação é de um estudo publicado pela revista "Current Biology". Os reflexos de Bush e a falta de reação do primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, que estava ao lado do ex-presidente, durante o incidente, comprovam a teoria de neurocientistas da Universidade de Washington de que "existem duas vias independentes no sistema visual humano". Um dos sistemas guia as ações e o outro a percepção. O interessante é que o primeiro permite ao cérebro "ver" coisas que os olhos não percebem, segundo o estudante de doutorado em psicologia Jeffrey Lin, autor principal do estudo. "Quando lançamos duas bolas com trajetórias muito similares contra alguém, elas podem parecer iguais para seu sistema de percepção, mas o cérebro calcula de forma automática qual representa uma maior ameaça e desencadeia uma manobra de evasão, inclusive antes que a pessoa se dê conta do ocorrido", afirma Lin. Isto explica porque no incidente dos sapatos al- Maliki nem se mexeu. "Seu cérebro já tinha captado que o sapato não representava uma ameaça. Mas o cérebro de Bush o catalogou como uma ameaça e desencadeou um movimento de evasão, tudo em uma fração de segundo", disse Lin. Os cientistas realizaram vários experimentos com estudantes e o uso de computador para demonstrar sua teoria. Segundo Geoffrey Boynton, coautor do estudo, o fato demonstra que um estÃmulo em forma de ameaça chama a atenção, inclusive quando não se pode identificar de forma consciente. "Isto ser mais preciso que nossa percepção consciente é bastante impressionante", disse.