Psicologia
Psicologia, Ciência e Senso Comum
Ciência e Senso ComumAs pessoas em geral têm a “sua psicologiaâ€. Usamos o termo psicologia, no nosso cotidiano, com vários sentidos. Por exemplo, quando um amigo chega procurando consolo, usamos de nossa "psicologia" para ouvir e entender os problemas dele. Certamente essa não é a psicologia dos psicólogos, essa psicologia utilizada no cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada de psicologia do senso comum.
As pessoas, normalmente, têm um domÃnio, mesmo que pequeno e superficial, do conhecimento acumulado pela Psicologia cientÃfica, o que lhes permite explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um ponto de vista psicológico.
Relação Ciência e Senso Comum
O Senso Comum é o conhecimento da vida cotidiana, como sentimos a realidade. Sem esse conhecimento intuitivo, espontâneo, de tentativas e erros, a nossa vida no dia-a-dia seria muito complicada.
“O cotidiano e o conhecimento cientÃfico que temos da realidade aproximam-se e se afastam: aproximam-se porque a ciência se refere ao real; Afastam-se porque a ciência abstrai a realidade para compreendê-la melhor, ou seja, a ciência afasta-se da realidade, transformando-a em objeto de investigação – o que permite a construção do conhecimento cientÃfico sobre o real.â€
O Conhecimento do Senso Comum
O senso comum, na produção desse tipo de conhecimento, percorre um caminho que vai do hábito à tradição, a qual, quando estabelecida, passa de geração para geração. Assim, aprendemos com nossos pais a atravessar uma rua, a fazer o liquidificador funcionar, etc. E é nessa tentativa de facilitar o dia-a-dia que o senso comum produz suas próprias “teoriasâ€; na realidade, um conhecimento que, numa interpretação livre, poderÃamos chamar de teorias médicas, fÃsicas, psicológicas etc.
O senso comum mistura e recicla saberes, muito mais especializados, e os reduz a um tipo de teoria simplificada, produzindo uma determinada visão de mundo.
Arte, religião, filosofia, ciência e senso comum são domÃnios do conhecimento humano.
Quando utilizamos termos como “rapaz complexadoâ€, “menina histéricaâ€, “ficar neuróticoâ€, estamos usando termos definidos pela Psicologia cientÃfica. Não nos preocupamos em definir as palavras usadas e nem por isso deixamos de ser entendidos pelo outro. Podemos até estar muito próximos do conceito cientÃfico, mas, na maioria das vezes, nem o sabemos. Esses são exemplos da apropriação que o senso comum faz da ciência.
A Psicologia CientÃfica – O que é Ciência?
A ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade. A ciência ainda tem uma caracterÃstica fundamental: ela aspira à objetividade. Suas conclusões devem ser passÃveis de verificação e isentas de emoção, para, assim, tornarem-se válidas para todos.
A ciência como um processo: “um novo conhecimento é produzido sempre a partir de algo anteriormente desenvolvidoâ€. Negam-se, reafirmam-se, descobrem-se novos aspectos, e assim a ciência avança.
Objeto especÃfico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas especÃficas, processo cumulativo do conhecimento, objetividade fazem da ciência uma forma de conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo do senso comum.
Objeto de Estudo da Psicologia
Em determinadas ciências é possÃvel isolar o objeto de estudo, ou seja, tratar o objeto com certa distância. O mesmo não ocorre com a Psicologia: uma Ciência Humana: estuda o homem. Um motivo que contribui para dificultar uma clara definição de objeto da Psicologia é o fato de o cientista — o pesquisador — confundir-se com o objeto a ser pesquisado. Assim, a concepção de homem que o pesquisador traz consigo “contamina†inevitavelmente a sua pesquisa em Psicologia. Portanto, a Psicologia hoje se caracteriza por uma diversidade de objetos de estudo.
Um comportamentalista estudará o comportamento. Um Psicólogo Psicanalista, o inconsciente. Outros dirão: a consciência, e outros, ainda, a personalidade.
“No momento não existe uma psicologia, mas Ciências psicológicas embrionárias e em desenvolvimento.â€
A Subjetividade como Objeto da Psicologia
A psicologia colabora com o estudo da subjetividade. Logo, a matéria prima da psicologia é o homem em todas as suas expressões, as visÃveis (nosso comportamento) e as invisÃveis (nossos sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) – é o homem-corpo, homem-pensamento, homem-afeto, homem-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade.
A subjetividade é o mundo das ideias, significados e emoções construÃdo internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais. A subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um. É o que constitui o nosso modo de ser.
Entretanto, a sÃntese que a subjetividade representa não é inata ao indivÃduo. Ele a constrói aos poucos, apropriando-se do material do mundo social e cultural, e faz isso ao mesmo tempo em que atua sobre este mundo, ou seja, é ativo na sua construção. Criando e transformando o mundo (externo), o homem constrói e transforma a si próprio.
A Psicologia e o Misticismo
A psicologia contribui para a compreensão da totalidade da vida humana. Ela, como área da ciência, vem se desenvolvendo na história desde 1875, quando Wilhelm Wundt criou o primeiro laboratório de experimentos em psicofisiologia, em Leipzig, na Alemanha.
Hoje, a Psicologia ainda não consegue explicar muitas coisas sobre o homem, pois é uma área da Ciência relativamente nova (com pouco mais de cem anos).
Algumas práticas não psicológicas têm sido associadas à s práticas psicológicas. O tarô, a astrologia, a quiromancia, a numerologia, entre outras práticas adivinhatórias e/ou mÃsticas, têm sido associadas ao fazer e ao saber psicológico. O verdadeiro cientista deve ter os olhos abertos para o novo. Mas não se deve misturar psicologia com práticas adivinhatórias ou mÃsticas que estão baseadas em pressupostos diversos e opostos ao da psicologia.
Estas não são práticas da Psicologia. São outras formas de saber — de saber sobre o humano — que não podem ser confundidas com a Psicologia, pois:
• não são construÃdas no campo da Ciência, a partir do método e dos princÃpios cientÃficos;
• estão em oposição aos princÃpios da Psicologia, que vê não só o homem como ser autônomo, que se desenvolve e se constitui a partir de sua relação com o mundo social e cultural, mas também o homem sem destino pronto, que constrói seu futuro ao agir sobre o mundo. As práticas mÃsticas têm pressupostos opostos, pois nelas há a concepção de destino, da existência de forças que não estão no campo do humano e do mundo material.
É importante lidar com tais saberes sem preconceito. Tais saberes não estão no campo da Psicologia, mas podem se tornar seu objeto de estudo.
Utilizar a prática mÃstica como acompanhamento psicológico e utilizar tais saberes sem critério cientÃfico comprovado implica charlatanismo e desempenho inadequado da profissão, respectivamente.
Referências: Livro Psicologias (Ana Mercês Bahia Bock, Odair Furtado, Maria de Lourdes Trassi Teixeira)
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