Psicologia
A ponte frágil
A fÃsica é considerada por grande parte dos cientistas como a ciência magna. Seus postulados são considerados como a pedra fundamental do conhecimento do mundo, e várias ciências importam esses saberes para compreender melhor seus objetos especÃficos de estudo.
Com as ciências humanas, ocorre situação semelhante. Pode-se observar que muitos conceitos da fÃsica são transpostos para o estudo do comportamento, da sociedade, da economia, mas é relevante nos questionarmos sobre como é feita esta transposição. Entendemos haver certa inconsistência neste movimento, pois há alguns problemas que nem sempre são adequadamente considerados.
O primeiro deles é a carência de conhecimento dos postulados da fÃsica por cientistas humanos. Via de regra, o cientista humano é especialista em determinada área do saber, sendo conhecedor desta com maior ou menor profundidade (e não podia ser de outra forma). Entretanto, como especialista nas ciências humanas, é importante considerar se possui os conhecimentos básicos de fÃsica que são necessários para realizar a transposição das idéias deste campo para o campo humano. Se ponderarmos que muito do conhecimento cientÃfico do cientista humano está vinculado ao conhecimento obtido no ensino médio ou de leituras de segunda mão da fÃsica, esse problema assume relevância.
Segundo, a diferença do objeto investigado exige que a transposição de conhecimentos seja realizada com prudência. Se na fÃsica quântica o objeto investigado é a partÃcula, nas ciências humanas não é. Portanto, pode-se pensar que o raciocÃnio pode ser forçado ao se querer aplicar as mesmas explicações que servem bem para um fóton para outro contexto e objeto, que é o comportamento humano.
Terceiro, os comportamentos humanos são efetuados por pessoas que são compostas de matéria, mas que não estão diretamente sujeitas aos fenômenos da fÃsica quântica. Ludwig Boltzmann (1844-1906) já asseverou em seus estudos de termodinâmica que a matéria se comporta de acordo com a estatÃstica: as propriedades que vemos (extensão, volume, etc.) dependem da grande quantidade de moléculas que estão unidas e se comportam em conjunto. Não se pode considerar que a fÃsica do nosso dia-a-dia seja a mesma que a fÃsica quântica, porque não é; mas isso não significa que ela é melhor. Só é diferente.
Finalmente, muitos cientistas humanos parecem afirmar que a fÃsica quântica se aplicaria melhor do que a fÃsica clássica para explicar o comportamento. A fÃsica clássica é determinista e impessoal, enquanto que a quântica afirma que o observador interfere no fenômeno. Sim, isto ocorre. Mas podemos utilizar um princÃpio de semelhança como explicação? é legÃtimo afirmar que só porque um fenômeno ocorre no muito pequeno assim como ocorre no grande que tudo o mais também passa a valer? Só porque duas coisas são parecidas não quer dizer que estejam relacionadas ou que sejam explicadas pelo mesmo princÃpio. Além disso, a fÃsica, mesmo a quântica, não abre mão da tentativa de prever o comportamento das partÃculas, ou seja, ela possui um caráter de previsão, ao contrário do que os cientistas humanos gostam de afirmar (não é possÃvel prever o comportamento).
Por óbvio que os conhecimentos produzidos nas demais ciências podem servir como inspiração para a pesquisa em outras áreas. Só não se pode assumir levianamente o que não se conhece, pois desta forma não se estará fazendo ciência de forma séria.
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