Por que os “reality shows” fazem tanto sucesso?
Psicologia

Por que os “reality shows” fazem tanto sucesso?


Sob definição, “reality show” significa um programa televisivo que se baseia na “vida real”, e os visados da história, não seriam personagens fictícios, mas sim “pessoais reais”. Porém, sabemos que não é bem assim que as coisas realmente funcionam...

As pessoas escolhidas para participar, ditas como “pessoas comuns e normais”, no caso do Big Brother Brasil, por exemplo, são escolhidas por motivos específicos, para assumirem seu papel. Alguns desses papéis são essenciais em todas as edições, como: pelo menos um negro, uma pessoa “explosiva”, algumas mulheres e homens, cujo padrão de beleza é o mais “aceito socialmente” na Hiper-Modernidade, algum homossexual e alguém de classe média baixa.

Pronto, esta é a receita. Assim, um programa no formato do Big Brother, consegue atrair um público diverso, que varia de homens que assistem para ver qual vai ser a próxima mulher que vai pousar na “Playboy”, passando por pessoas apenas curiosas, que se divertem assistindo as confusões e brigas que acontecem dentro da casa onde os participantes ficam confinados, é assistido também por pessoas que desejam “fama e dinheiro”, algo que se consegue “facilmente” nesses programas; Os “15 minutos” de fama atraem essas pessoas, que sonham um dia também poderem participar de alguma edição. Alguns também assistem por acreditarem ser um “jogo justo”, onde elas tem o poder de votar e decidir quem é o “mais merecedor” daquele prêmio. Ou seja, pessoas que assistem porque os “reality” funcionam como um “God-Mode Play”, isto é, dá as pessoas o poder de interferir em eventos na vida dos “players”, como se fosse realmente um “jogo da vida”, onde inclusive, a eliminação no “paredão” significa uma “morte”, que é um, dentre vários outros signos que existem nos programas. Ou seja:

"Temos aí a operação básica da pós-modernidade: a transformação da realidade em signo. Simulacro = signo. (...) Mas e daí? Daí que, se o real é duro, intratável, o simulacro é dócil e maleável o suficiente para permitir a criação de uma hiper-realidade. Intensificado, estetizado, o simulacro faz o real parecer mais real, dá-lhe uma aparência desejável." 

Infelizmente, esse enorme sucesso também se deve ao fato de muitos preferirem a vitrine ao invés do espelho, onde teriam que dar conta de sua própria realidade. Ironicamente, a última coisa que se terá acesso acompanhando um reality show é a realidade; especialmente a sua. É muito mais fácil chegar depois de um dia duro de trabalho e lidar com uma distração como o BBB, julgando a vida alheia, do que lidar realmente com seus próprios problemas e angústias. Segundo Santos (1986, p. 12),

“O simulacro, tal qual a fotografia a cores, embeleza, intensifica o real. Ele fabrica um hiper-real, espetacular, um real mais real e mais interessante que a própria realidade. (...) O hiper-real simulado nos fascina porque é o real intensificado na cor, na forma, no tamanho, nas suas propriedades. É um quase sonho. (...) O ambiente pós-moderno significa basicamente isso: entre nós e o mundo estão os meios tecnológicos de comunicação, ou seja, de simulação. Eles não nos informam sobre o mundo; eles o refazem a sua maneira, hiper-realizam o mundo, transformando-o num espetáculo." 

Enfim, a vida daquelas pessoas que estão “na telinha”, acaba parecendo mais interessante do que a vida do próprio telespectador. Assim, os “reality” atraem um público variado, de diversas idades e classes sociais. Alguns criticam, com o argumento de que “quem assiste a esse tipo de programa é porque não tem instrução ou é burro”, porém, na realidade, muitas pessoas bem instruídas também acompanham esse tipo de “show”, pois não é isso que define a capacidade intelectual de cada um, apesar de contribuir. 

Além disso tudo, é notável que todos os reality shows tem como característica um apelo sexual fortíssimo. Trazendo em cena sempre mulheres, que são colocadas e vistas apenas como objetos sexuais, e homens que são vistos como galãs e “pegadores”. Nenhum reality show dá “ibope” se não tiver aquele casal, da gostosona com o saradão, que bebem nas festas e vão parar “embaixo do edredom”. Para o Brasileiro, é uma boa pedida: festa, bebida, gente bonita e sexo. 

Esse é o tipo de programa que trás a cara da Hiper-Modernidade. Se encaixando perfeitamente na política do “pão e circo”, assim como o futebol, o carnaval e a novela.

Os reality shows são um mal? Talvez não sejam mais do que desdobramentos da nossa própria incapacidade de olharmos para nós mesmos com a devida profundidade, algo comum no cenário hiper-moderno, onde o sujeito está “dessubstancializado”, ou seja “o referente (a realidade) se degrada em fantasmagoria e o individuo perde a substância interior, sente-se vazio, sem identidade”. A isso os filósofos estão chamando desreferencialização do real e dessubstancialização do sujeito. O mal, nesse caso, surge quando o sistema utiliza essa incapacidade como artifício de controle da massa. Quanto mais alienação, menos resistência à opressão e às desigualdades sociais.

Isabela França

Referência:
SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é Pós-Moderno. Coleção Primeiros Passos. Editora Brasiliense, 1986.



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