Estudos demonstram que a espiritualidade tem impacto na prevenção do suicida e na recuperação do mesmo.
Psicologia

Estudos demonstram que a espiritualidade tem impacto na prevenção do suicida e na recuperação do mesmo.


"Todo o mundo é louco. O Senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso e que se carece principalmente de religião: para se desindoidecer, desdoidar. Reza e que sara a loucura." 
Estudos demonstram que a espiritualidade tem impacto na prevenção do suicídio e na recuperação de suicidas (Ilustração: CB / D.A Press)
Estudos demonstram que a espiritualidade tem impacto na prevenção do suicídio e na recuperação de suicidaTodo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara loucura.” 






Além da melhora na qualidade de vida e no ganho social do indivíduo, os trabalhos demonstraram que a espiritualidade tem implicações expressivas em campos espinhosos da psiquiatria, como a prevenção do suicídio e a recuperação de suicidas. A falta do lado espiritual (ou uma visão distorcida, “fanática”) pode, por outro lado, piorar quadros depressivos e aumentar as chances de abuso de drogas, além de outros transtornos mentais.

Alexander Moreira-Almeida, coordenador das seções em espiritualidade e psiquiatria da WPA e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), explica que uma das definições mais aceitas de espiritualidade é “busca pessoal por questões fundamentais sobre a vida”.

“A religião é um sistema de crenças e práticas que busca a aproximação com o sagrado e com o transcendente. Uma religião seria a forma institucional, coletiva, de espiritualidade.” É perfeitamente possível, portanto, haver espiritualidade sem religião.

Segundo o médico, a previsão da ciência era de que a humanidade trocaria a religiosidade por uma visão estritamente materialista da vida entre o fim do século 19 e o início do século 20. Não foi o que aconteceu. A humanidade, em sua maioria, mantém crenças e práticas religiosas e espirituais. No Brasil, especificamente, a religião ainda é dominante: de acordo com um levantamento realizado pela UFJF, a Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas (Uniad) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 90% dos brasileiros preferem ter uma religião. Dos 9% que afirmaram não ter um credo, a maioria acredita em Deus. Os que se declararam ateus ou agnósticos não chegaram a representar 0,5% da população pesquisada. Outro dado interessante do Brasil é a mistura: o sincretismo religioso representou 10% dos entrevistados. “Mais de um terço dos brasileiros frequenta um grupo religioso mais do que uma vez por semana”, completa Alexander Moreira-Almeida. “Provavelmente, não há nenhuma outra atividade social, voluntária, não obrigatória que tanta gente faça com tanta frequência.” (Veja quadro na página 7)

Não restam dúvidas de que a população brasileira é extremamente religiosa. Mas até que ponto isso influencia na saúde? “Há uma grande complexidade na relação entre os dois. Não é simplesmente dizer que a religião é boa ou ruim”, frisa o psiquiatra. A religiosidade, segundo ele, é algo multidimensional: é possível começar a investigação a partir das crenças religiosas do indivíduo, da frequência de orações, sobre o modo como a pessoa lida com os problemas por meio da religião. Cada uma dessas dimensões terá relações diferentes com os desfechos na saúde, como depressão, mortalidade e qualidade de vida.

Ao longo do estudo, os médicos comparavam e avaliavam a espessura cortical das crianças. O que se percebeu é que, ao se tornarem adultos, esse indivíduos continuaram mais protegidos contra a depressão — tinham o córtex duas vezes mais espesso que o grupo de controle. “Parece ser um mecanismo biológico. A espessura cortical é um fator protetor contra a depressão”, detalha Alexander. Um outro estudo, feito pelo médico, foi realizado com 1.500 idosos carentes de São Paulo. A ideia era investigar a prevalência de transtornos mentais comuns: basicamente, sintomas depressivos e ansiosos. O resultado foi parecido: idosos que frequentavam serviços religiosos tinham menos da metade dos níveis de depressão e de ansiedade do que os que não frequentavam.

Para os idosos, a religiosidade foi a principal fonte de suporte social. Venceu, inclusive, família e amigos. Em um estudo de 2009, intitulado “Religiosidade e espiritualidade no transtorno bipolar do humor”, Alexander Moreira-Almeida pesquisou 168 pacientes bipolares e descobriu que os pacientes que frequentavam serviços religiosos tinham menor frequência de quadros de depressão. O coping (termo da psicologia que se refere à forma com que encaramos os eventos da vida) religioso positivo também ajudou a manter a tristeza a uma distância segura. 




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