Apesar do nome sugerir um livro de poemas ou algo do gênero, logo o subtÃtulo ajuda a esclarecer: genes, natureza e experiência. Ainda ficou vago? Então vamos à primeira frase da contracapa: “O comportamento humano é produto da natureza (genes), ou da criação (ambiente)?†Ok, talvez você pense, “Ah, não, de novo esse assunto... todos já estão cansados de saber que não é nem uma coisa e nem outra, o ser humano é uma mistura complexa de genes e ambienteâ€. Mesmo que você seja esclarecido disso (até porque os professores de Psicologia e áreas afins minimamente sensatos repetem esse discurso incessantemente) ainda assim você pode ganhar muito com essa leitura. Vamos lá!
Matt Ridley, o autor, é um zoólogo que conduz muito bem os capÃtulos sempre com esse fio condutor: “não é mais uma questão de natureza versus criação, mas de natureza via criação" (Observação cabÃvel: o tÃtulo original do livro é “Nature via nurtureâ€, um trocadilho que só faz sentido em inglês, pois nurture pode ser traduzido como “criaçãoâ€).
Por que me apaixonei pelo livro? Porque assim como muitos, também não agüentava mais ouvir a ladainha de “interação complexa entre ambiente e genéticaâ€, mas foi esse autor que me mostrou de maneira clara, com exemplos, o que isso realmente quer dizer. Aliás, isso acabou virando um discurso politicamente correto. Claro, um pesquisador sério não é bem visto quando se mostra extremista, então ficar num meio termo, afirmando que tanto genes quanto criação importam parece ser uma saÃda muito boa. Contudo, muitas vezes o discurso se torna vazio, parece que se falando nisso falou-se tudo. Até porque ninguém vai contradizer e poucos vão questionar.
Enfim, alguns pontos em que ele toca. Primeiro, sabe aquela história de o ser humano e o chimpanzé terem aproximadamente 98% dos genes idênticos? Pois é, o que isso significa exatamente? Ridley lança luz nesse tema falando de genética em linguagem compreensÃvel e cativante. Que mais... hum... instintos. O ser humano tem instintos? A inteligência é genética ou se deve à aprendizagem? A criação é reversÃvel e a natureza não? O que significa exatamente um gene? Genes e livre-arbÃtrio são incompatÃveis?
Bom, são temas com certeza muito interessantes. Ridley passa por eles sempre citando grandes nomes, como Darwin, Galton, William James, Pavlov, Watson, Freud, Durkheim, Skinner, Piaget, Lorenz, grandes conhecidos dos psicólogos. Uma coisa que é central (e que não vai “estragar†a leitura de ninguém, espero que só aguce a curiosidade) é que o autor diz que grande parte dos mal-entendidos e confusões se deve ao fato de achar-se que os genes são irreversÃveis, imutáveis, e a criação sim. Logo, a igualdade polÃtica, econômica, enfim, entre os humanos, só poderia ser alcançada através da cultura (ou criação, ou ambiente). Entram aà vários medos humanos, como o da não-existência de livre-arbÃtrio, o de nunca ser possÃvel alcançar a igualdade entre as pessoas e de se fazer justiça social, o de não sermos seres especiais feitos à imagem e semelhança de Deus... Enfim... Isso está me lembrando a outro livro... Tabula Rasa.... Esse vai ficar para uma futura dica.
Obs 2. Se alguém tiver lido O que nos faz humanos ou quiser falar mais sobre isso (rs) faça comentários aqui. Estou carente de boas discussões na Psicologia (leve desabafo).
O que noz faz humanos. Matt Ridley. Editora Record, 2004, 399 páginas.