Psicologia
Cura para o Mal de Parkinson
Terapia genética: abordagem está sendo submetida a um teste preliminar com pequeno grupo de pacientes humanos, os quais mostraram sinais promissores de melhora.
Uma potencial terapia genética para o Mal de Parkinson é capaz de corrigir déficits motores em macacos sem causar os movimentos involuntários e espasmódicos que geralmente acompanham os tratamentos a longo prazo para a doença.
No momento, o tratamento mais comum para o Mal de Parkinson consiste na reposição da dopamina – neurotransmissor que está ausente nos portadores da doença – pela administração de um precursor da dopamina – a levodopa ou L-DOPA. A maior parte dos pacientes, no inÃcio do tratamento recupera o controle motor num nÃvel muito próximo ao normal, mas depois de vários anos de uso do L-DOPA os pacientes passam a sofrer com debilitantes efeitos colaterais fÃsicos e psicológicos.
NEUROTOXINA POTENTE
Para corrigir essa situação Stephane Palfi, neurocirurgião do Institute of Biomedical Imaging pertencente à Comissão de Energia Atômica Francesa, em Orsay, e seus colegas, entre os quais pesquisadores da Oxford, no Reino Unido, resolveram recorrer à terapia genética. Primeiramente, eles administraram em macacos uma neurotoxina muito potente capaz de fazer com que os animais desenvolvessem tremores corporais, postura instável e severa rigidez nas juntas – todos indicadores de um estágio avançado do Mal de Parkinson. A seguir, os pesquisadores injetaram no cérebro dos macacos três genes essenciais para a sÃntese da dopamina. Eles puderam perceber melhoras significativas no comportamento motor depois de apenas duas semanas, sem quaisquer sinais visÃveis de efeitos colaterais.
“Não percebemos quaisquer problemas nesses macacosâ€, afirmou Palfi.
Um dos animais chegou a exibir recuperação sustentada mais de três anos e meio após o procedimento. Surpreendentemente, os macacos não exibiam os movimentos espasmódicos e descontrolados que ocorrem à maioria dos pacientes humanos e macacos após prolongado tratamento oral com L-DOPA.
“O sucesso obtido com os macacos abre caminho para futuros estudos com seres humanosâ€, disse Palfi, que relatou seus resultados com animais na revista cientÃfica Science Translational Medicine.
“Esta é a situação exata que encontramos em nossa prática clÃnicaâ€, ele afirmou. A equipe de Palfi já testou duas diferentes doses de um vÃrus que contém três genes, em seis pacientes humanos, e agora está investigando uma dose intermediária que se equipare à quela utilizada nos macacos, feitos os necessários ajustes de acordo com o tamanho do cérebro. “Depois que os pesquisadores tiverem encontrado a dose ótima, eles planejam avançar com o tratamento experimental para a Fase II de testesâ€, disse Palfi.
TUDO OU NADA
A técnica de Palfi não é a única terapia genética atualmente adotada para o Mal de Parkinson. Alguns pesquisadores estão utilizando genes que fornecem fatores de crescimento, que possam impedir a morte dos neurônios produtores de dopamina. Outros estão introduzindo genes que inibem a atividade neural excessiva associada ao Mal de Parkinson, da mesma maneira que no procedimento cirúrgico conhecido como estimulação cerebral profunda. E há ainda outros pesquisadores que se concentram em genes únicos – em vez de três – para atuar na sÃntese de dopamina.
A equipe de Palfi, no entanto, foi a primeira a utilizar em um primata todos os três genes de dopamina num único vetor viral. O objetivo dessa abordagem é eliminar a necessidade de L-DOPA e dessa forma seus efeitos colaterais. “Mas o uso dessa técnica significaria que os clÃnicos já não mais seriam capazes de ajustar os nÃveis de dopamina do cérebro de acordo com as necessidades do pacienteâ€, observou Jamie Eberling, diretor associado dos programas de pesquisa da Michael J. Fox Foundation for Parkinson’s Research, em Nova York.
Como membro da equipe de pesquisadores do Lawrence Berkeley National Laboratory, em Berkeley, na Califórnia, Eberling participou da Fase I de teste de uma terapia genética que substituÃa apenas um dos genes associados à dopamina, com a finalidade de reduzir os efeitos colaterais.
Com a abordagem do gene único, “nós poderÃamos controlar os nÃveis de dopamina, apesar de que não poderÃamos controlar a expressão do gene; já com essa abordagem dos três genes, não é possÃvel controlar nenhum dos dois fatoresâ€, disse Eberling.
RESPOSTAS NEURAIS HIPERATIVAS
Michael Kaplitz, neurocirurgião do Weill Conell Medical College de Nova York, ajudou a conduzir um teste de terapia genética para mitigar respostas neurais hiperativas e adverte que é difÃcil extrapolar os resultados obtidos com os macacos para os humanos porque a substância quÃmica utilizada para induzir os sintomas do Mal de Parkinson destrói neurônios com rapidez muito maior do que a doença costuma destruir em humanos.
Ainda assim, ele disse “quanto mais dados com animais tivermos para embasar um estudo com humanos e quanto mais dados com humanos obtivermos, mais seremos capazes de compreender quais têm sido os obstáculos para um desenvolvimento bem-sucedido, assim como para a transposição das terapias genéticas para a prática clÃnicaâ€.
Fonte: Nature Review - Psique Ciência & Vida
Postado por: Ana Cláudia Foelkel Simões
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