Psicologia
Autismo
Autismo é uma desordem na qual uma criança jovem não pode desenvolver relações sociais normais, se comporta de modo compulsivo e ritualista, e geralmente não desenvolve inteligência normal. O autismo é uma patologia diferente do retardo mental ou da lesão cerebral, embora algumas crianças com autismo também tenham essas doenças. Sinais de autismo normalmente aparecem no primeiro ano de vida e sempre antes dos três anos de idade. A desordem é duas a quatro vezes mais comum em meninos do que em meninas.
O grau de comprometimento é de intensidade variável: vai desde quadros mais leves, como a sÃndrome de Asperger (na qual não há comprometimento da fala e da inteligência), até formas graves em que o paciente se mostra incapaz de manter qualquer tipo de contato interpessoal e é portador de comportamento agressivo e retardo mental.
Os estudos iniciais consideravam o transtorno resultado de dinâmica familiar problemática e de condições de ordem psicológica alteradas, hipótese que se mostrou improcedente. A tendência atual é admitir a existência de múltiplas causas para o autismo, entre eles, fatores genéticos e biológicos.
Causas
A causa do autismo não é conhecida. Estudos de gêmeos idênticos indicam que a desordem pode ser, em parte, genética, porque tende a acontecer em ambos os gêmeos se acontecer em um. Embora a maioria dos casos não tenha nenhuma causa óbvia, alguns podem estar relacionados a uma infecção viral (por exemplo, rubéola congênita ou doença de inclusão citomegálica), fenilcetonúria (uma deficiência herdada de enzima), ou a sÃndrome do X frágil (uma dosagem cromossômica).
O diagnóstico é essencialmente clÃnico. Leva em conta o comprometimento e o histórico do paciente e norteia-se pelos critérios estabelecidos por DSM–IV (Manual de Diagnóstico e EstatÃstica da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria) e pelo CID-10 (Classificação Internacional de Doenças da OMS).
Uma criança autista prefere estar só, não forma relações pessoais Ãntimas, não abraça, evita contato de olho, resiste à s mudanças, é excessivamente presa a objetos familiares e repete continuamente certos atos e rituais. A criança pode começar a falar depois de outras crianças da mesma idade, pode usar o idioma de um modo estranho, ou pode não conseguir - por não poder ou não querer - falar nada. Quando falamos com a criança, ela freqüentemente tem dificuldade em entender o que foi dito. Ela pode repetir as palavras que são ditas a ela (ecolalia) e inverter o uso normal de pronomes, principalmente usando o tu em vez de eu ou mim ao se referir a si própria.
Sintomas de autismo em uma criança levam o médico ao diagnóstico, que é feito através da observação. Embora nenhum teste especÃfico para autismo esteja disponÃvel, o médico pode executar certos testes para procurar outras causas de desordem cerebral.
A maioria das crianças autistas tem desempenho intelectual desigual, assim, testar a inteligência não é uma tarefa simples. Pode ser necessário repetir os testes várias vezes. Crianças autistas normalmente se saem melhor nos itens de desempenho (habilidades motoras e espaciais) do que nos itens verbais durante testes padrão de Q.I. Acredita-se que aproximadamente 70 por cento das crianças com autismo têm algum grau de retardamento mental (Q.I. menor do que 70).
Entre 20 e 40 por cento das crianças autistas, especialmente aquelas com um Q.I. abaixo de 50, começam a ter convulsões antes da adolescência. Algumas crianças autistas apresentam aumento dos ventrÃculos cerebrais que podem ser vistos na tomografia cerebral computadorizada. Em adultos com autismo, as imagens da ressonância magnética podem mostrar anormalidades cerebrais adicionais.
Uma variante do autismo, à s vezes chamada de desordem desenvolvimental pervasiva de inÃcio na infância ou autismo atÃpico, pode ter inÃcio mais tardio, até os 12 anos de idade. Assim como a criança com autismo de inÃcio precoce, a criança com autismo atÃpico não desenvolve relacionamentos sociais normais e freqüentemente apresenta maneirismos bizarros e padrões anormais de fala.
Essas crianças também podem ter sÃndrome de Tourette, doença obsessivo-compulsiva ou hiperatividade. Assim, pode ser muito difÃcil para o médico diferenciar entre essas condições.
Prognóstico e tratamento
Até o momento, autismo é um distúrbio crônico, mas que conta com esquemas de tratamento que devem ser introduzidos tão logo seja feito o diagnóstico e aplicados por equipe multidisciplinar.
Não existe tratamento padrão que possa ser utilizado. Cada paciente exige acompanhamento individual, de acordo com suas necessidades e deficiências. Alguns podem beneficiar-se com o uso de medicamentos, especialmente quando existem co-morbidades associadas.
Os sintomas de autismo geralmente persistem ao longo de toda a vida. Muitos especialistas acreditam que o prognóstico é fortemente relacionado a quanto idioma utilizável a criança adquiriu até os sete anos de idade. Crianças autistas com inteligência subnormal - por exemplo, aquelas com Q.I. abaixo de 50 em testes padrão - provavelmente irão precisar de cuidado institucional em tempo integral quando adultos.
Crianças autistas na faixa de Q.I. próximo ao normal ou mais alto, freqüentemente se beneficiam de psicoterapia e educação especial. Fonoterapia é iniciada precocemente bem como a terapia ocupacional e a fisioterapia. A linguagem dos sinais à s vezes é utilizada para a comunicação com crianças mudas, embora seus benefÃcios sejam desconhecidos. Terapia comportamental pode ajudar crianças severamente autistas a se controlarem em casa e na escola. Essa terapia é útil quando uma criança autista testar a paciência de até mesmo os pais mais amorosos e os professores mais dedicados.
Lista de Checagem do Autismo
A lista serve como orientação para o diagnóstico. Como regra os indivÃduos com autismo apresentam pelo menos 50% das caracterÃsticas relacionadas. Os sintomas podem variar de intensidade ou com a idade.
- Dificuldade em juntar-se com outras pessoas
- Insistência com gestos idênticos, resistência a mudar de rotina
- Risos e sorrisos inapropriados
- Não temer os perigos
- Pouco contato visual
- Pequena resposta aos métodos normais de ensino
- Brinquedos muitas vezes interrompidos
- Aparente insensibilidade à dor
- Ecolalia (repetição de palavras ou frases)
- Preferência por estar só; conduta reservada
- Pode não querer abraços de carinho ou pode aconchegar-se carinhosamente
- Faz girar os objetos
- Hiper ou hipo atividade fÃsica
- Aparenta angústia sem razão aparente
- Não responde às ordens verbais; atua como se fosse surdo
- Apego inapropriado a objetos
- Habilidades motoras e atividades motoras finas desiguais
- Dificuldade em expressar suas necessidades; emprega gestos ou sinais para os objetos em vez de usar palavras.
Recomendações
- Ter em casa uma pessoa com formas graves de autismo pode representar um fator de desequilÃbrio para toda a famÃlia. Por isso, todos os envolvidos precisam de atendimento e orientação especializados;
- É fundamental descobrir um meio ou técnica, não importam quais, que possibilitem estabelecer algum tipo de comunicação com o autista;
- Autistas têm dificuldade de lidar com mudanças, por menores que sejam; por isso é importante manter o seu mundo organizado e dentro da rotina;
- Apesar de a tendência atual ser a inclusão de alunos com deficiência em escolas regulares, as limitações que o distúrbio provoca devem ser respeitadas. Há casos em que o melhor é procurar uma instituição que ofereça atendimento mais individualizado;
- Autistas de bom rendimento podem apresentar desempenho em determinadas áreas do conhecimento com caracterÃsticas de genialidade.
Referências: ABC da Saúde
Drauzio Varella
*Leia também: "Carly's Voice": Como funciona a mente de um autista
Estudo analisa casos em que sintomas de autismo desapareceram
Autismo - Ilhados em seu próprio mundo
*Para saber mais:
Na livraria: Uma Menina Estranha
Temple Grandim, Companhia das Letras, São Paulo, 1999
Um Antropólogo em Marte
Oliver Sacks, Companhia das Letras, 2000 (cap. 6 e 7)
Autismo Infantil
José Salomão Schwartzman (organizador), Memnon Edições CientÃficas, São Paulo, 1995
The Genesis of Artistic Creativity
Michael Fitzgerald, Jessica Kingsley, 2005.
Na Internet: Associação dos Amigos do Autista
Associação Brasileira de Autismo
Autismo e Realidade
www.autism.org
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