Psicologia
Adolescentes obesas acreditam que ser magro é ser feliz
A conclusão da dissertação de mestrado "A representação social de um corpo magro por adolescentes obesas", defendida em maio de 2011 por Dressiane Zanardi Pereira na Faculdade na Universidade de São Paulo, sob orientação de Fernando Lefèvre, chegou a conclusão de que adolescentes obesas acreditam que ser magro significa fazer parte da sociedade, ser mais bem-sucedido, vencedor e feliz.
A pesquisadora entrevistou individualmente 32 alunas participantes do Programa de Atividades ao Paciente Obeso (Papo), oferecido gratuitamente desde 1996 por uma equipe multidisciplinar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O Papo busca promover o envolvimento das jovens em práticas de atividade fÃsica, alimentação adequada e autoconhecimento, além da diminuição do excesso de peso. O grupo que participou da pesquisa era composto por meninas com idade entre 13 e 16 anos, com condições sociais e fÃsicas semelhantes.
O roteiro apresentado à s entrevistadas continha três questões abertas. A primeira era “A que se deve o fato de você estar acima do peso?â€. A grande maioria das respostas culpavam maus hábitos alimentares e compulsão alimentar devido a emoções negativas. “Muitas delas diziam que não tinham bons hábitos alimentares em casa e culpavam os pais por isso. É claro que os familiares têm parcela de responsabilidade, mas menos do que elas diziam. A maior responsabilidade é delas mesmasâ€, comenta Dressiane Pereira.
É importante salientar que meninas cujas famÃlias auxiliaram de maneira direta nas mudanças comportamentais tiveram melhoras muito mais significativas do que aquelas que não tinham tanto apoio em casa. “A adolescência é uma fase complicada. Você não faz compras sozinho, não decide tudo o que vai comprar, comer. Elas precisam do apoio dentro de casa para melhorar seus hábitosâ€, explica a pesquisadora.
A segunda pergunta era “O que você espera com o programa Papo?â€. Constatou-se que a expectativa de todas as meninas era o emagrecimento. Algumas acrescentavam que pretendiam melhorar sua autoestima e sua saúde. “Algumas delas chegavam com comorbidades, por exemplo, colesterol alto. Por isso elas tinham consciência da questão médicaâ€, explica Dressiane.
A última pergunta era “Se você for bem sucedida com o programa, se acontecerem as coisas que você espera, o que você acha que vai mudar na sua vida?â€. A maior parte das respostas dizia que o sucesso no programa aumentaria a aceitação das pessoas, melhoraria a sua sociabilidade e acabaria com os preconceitos sofridos pela obesidade. “Elas acreditavam que com o emagrecimento a vida delas melhoraria em vários aspectos. Era como se tudo mudasse num passe de mágica. Mas não é assim que as coisas acontecemâ€.
Uma das principais autoras utilizadas no desenvolvimento do trabalho foi a psicanalista Maria Rita Kehl, que escreveu sobre o corpo na sociedade contemporânea, dizendo que ele foi promovido “ao mais fiel indicador da verdade do sujeito, da qual depende a aceitação e a inclusão socialâ€. Em outras palavras, um corpo magro possibilita uma melhor interação social. É justamente essa ideia que se mostra presente no discurso das participantes.
Acho importante compreender como se sentem as jovens obesas e quais são as representações sociais que essas meninas tem sobre o corpo magro, pois isso pode ter um importante impacto em suas vidas. A estética magra ultrapassa a questão da saúde, passando a ser vendida muito mais como um padrão indispensável para que uma pessoa possa se inserir socialmente e mesmo ser feliz. Essas representações que permeiam nosso pensamento acabam influenciando nossos hábitos, alimentando transtornos alimentares como a anorexia nervosa e até mesmo promovendo preconceitos contra as pessoas que não possuem um corpo magro. Achei essa pesquisa interessante porque mostra um pouco sobre como esse ideal de felicidade que cerca o corpo magro é algo marcante nessas jovens - e é fundamental se estar atento a esses ideais, pois quando essa tal "felicidade" não é atingida, surge a frustração, que pode ter consequências sérias.
*Leia também: Transtornos Alimentares e Depressão
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