De acordo com o psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Estudos de Álcool e outras drogas (ABEAD) Carlos Salgado, a abstinência alcoólica pode sim matar uma pessoa. "Isso ocorre sim, especialmente em indivíduos que maltratam o corpo, o que pode provocar desidratação e infecções. A síndrome de privação de álcool pode matar, mas é bastante raro", disse.
O problema da interrupção repentina está no fato do álcool agir como um sedativo e viciar o organismo. "O sujeito está se expondo sistematicamente ao álcool, que em doses baixas é um euforizante e em doses altas é um sedativo. Na crise de abstinência, o sujeito treme, transpira, tem diarreia, náuseas e ainda pode ter alucinações. A morte nestes indivíduos pode acontecer por arritmia, desidratação ou pelo conjunto de fenômenos, que desencadeiam numa pressão arterial muito elevada", completou o médico.
Este caso grave ocorre em pacientes que estejam realmente debilitados, mas em tratamentos convencionais, principalmente no caso de dependência química, as clínicas utilizam práticas diferentes para evitar a abstinência grave, segundo o psiquiatra: "quando há assistência médica, colocamos no lugar do álcool o benzodiazepinico, que é um tranquilizante. Tiramos o álcool e colocamos doses desta substância e, em seguida, fazemos uma retirada gradual", disse.
Tratamento forçado
"Eu também já defendi a ideia de que o sujeito só vai se tratar se quiser, mas hoje eu acho muito relativo. Em termos práticos, quando a pessoa é conduzida contra a vontade, a família está recorrendo ao último artifício para salvar uma pessoa que não consegue fazer isso sozinha", falou o presidente da ABEAD, que defende a internação forçada de pessoas completamente dependentes e que precisam de tratamento.
O médico compara casos de dependentes químicos ao de uma pessoa idosa, de cama, em estado grave em casa. "Neste caso da idosa, a família não pensaria duas vezes antes de interná-la. O mesmo deve ocorrer com o dependente, que está doente", disse.
Processo legal
A questão da liberdade de escolha é muito debatida quando o assunto é a internação. Porém, quando a pessoa está dependente química, ela é considerada uma pessoa doente e a família pode sim intervir solicitando uma internação para tratamento. "Quem garante que um indivíduo possa internar o outro é o psqiquiatra, junto com um juiz que pode ordenar a internação. Há uma combinação de esforços com a justiça para que isso ocorra e não conheço histórias de psiquiatras que tenham tido a internação negada pela justiça", analisou o médico.
Drogas lícitas e ilícitas
Para o especialista, o álcool é o grande vilão quando o assunto é dependência, mas outras drogas estão afetando dramaticamente a população. "O alcoolista produz mais sofrimento e problemas de saúde, em escala, do que a heroína. A outra grande droga é o tabaco, que é um grande problema e causador de mortes evitáveis, causando grande prejuízo à sociedade", disse. Por outro lado, as drogas ilícitas também são encontradas com facilidade e preocupam pela variedade. "Entre as drogas ilícitas, as que mais preocupam são a maconha, cocaína, craque e, agora, o oxi. Está havendo uma ampliação do repertório e a cada hora chega uma droga nova", alertou Carlos Salgado.
A boa notícia é que a sociedade está cada vez mais vendo o tabaco como algo negativo, o que fez com quem mais pessoas procurassem largar o vício. Porém, essa não é uma tarefa fácil e precisa de força de vontade e apoio da família e amigos. "Em média, a pessoa tenta sete vezes antes de conseguir parar definitivamente com o cigarro, mas as medidas restritivas que estão sendo adotadas em todo o mundo estão contribuindo para que as pessoas vejam o tabaco como um problema de saúde", finalizou o psiquiatra.
Fonte: terra