Psicólogos em Cartum
Psicologia

Psicólogos em Cartum



Um dos objetivos deste blog sempre foi, além de discutir questões relevantes para a Psicologia brasileira, reunir cartuns, charges e quadrinhos relacionados ao universo psi. Sempre fui apaixonado por desenhos, já tendo inclusive me arriscado como desenhista muitos anos atrás. Em 2008, quando comecei a reunir desenhos para este blog, traduzindo alguns inclusive, não havia nenhum site no Brasil que fizesse tal coisa. Atualmente, existem inúmeros blogs e grupos no Facebook dedicados ao humor sobre Psicologia. Da minha parte, insisto em manter esta atividade colecionista neste espaço em função da minha grande admiração (com um pouquinho de inveja, confesso) pelos artistas que conseguem condensar idéias e reflexões em imagens ao mesmo tempo simples e complexas, que, ao nos fazerem rir, permitem que enxerguemos a realidade de outra forma. Um bom cartum, assim como uma boa obra de arte, leva à reflexão sobre o mundo e sobre nós mesmos. 


Neste sentido, os cartuns protagonizados por psicólogos permitem-nos analisar de que forma os profissionais psi são retratados, e isto provavelmente reflete a representação social dos psicólogos, ou seja, a forma ou as formas como estes são vistos na/pela sociedade. Da análise de alguns desenhos com psicólogos, uma coisa que salta aos olhos é o predomínio quase absoluto da atividade clínica. Dificilmente um psicólogo é representado em outra função. E esta representação certamente é compartilhada por grande parte da sociedade, que compreende psicólogo como sinônimo de psicoterapeuta - e mesmo como equivalente a psicanalista ou psiquiatra (a diferença entre tais profissionais nunca é nítida). Mesmo que grande parte dos profissionais ainda se dedique ao atendimento individual em consultório e que clinicar ainda seja o sonho de grande parte dos que iniciam uma graduação, a psicologia está se tornando, cada vez mais, uma prática institucionalizada. Muitos dos que se formam atualmente, iniciam suas carreiras como psicólogos em empresas, escolas, presídios, instituições de saúde mental ou assistência social, dentre outras. Não que a atividade clínica esteja em baixa - pelo contrário - mas a Psicologia no Brasil, que completa este mês 50 anos de sua regulamentação, está mais multifacetada do que nunca. No entanto, a visão tradicional do psicólogo permanece. 


Outra característica evidente dos cartuns com psicólogos é a absoluta vinculação com a psicanálise. O divã é onipresente e não são raras referências diretas à Freud e à teoria psicanalítica. E mais: a despeito de grande parte dos profissionais, pelo menos no Brasil, serem mulheres, os homens dominam os cartuns, sendo normalmente caracterizados com barba e óculos, à imagem e semelhança do "Pai" Freud. Comumente retratados como seres frios e distantes, quando não sonolentos ou displicentes, os psicólogos se limitam a escutar o sofrimento dos pacientes, permanecendo sentados, de pernas cruzadas, estáticos e impassíveis, com suas canetas e blocos de anotação na mão - ou então com placas do teste Rorschach. Quando falam, limitam-se a fazer perguntas óbvias, dar diagnósticos ("Você é bipolar") ou, então, algum conselho ou prescrição do tipo "faça isso, faça aquilo" para os pacientes. Sua autoridade é evidenciada pelos onipresentes diplomas, sempre pendurados na parede do consultório. No entanto, apesar de posarem de sabe-tudo são, algumas vezes, representados como inseguros, mal-resolvidos e até mesmo "loucos", tal qual seus próprios pacientes. 



Neste estudo clássico, da década de 80, os autores apontam para a descrição mais frequente e recorrente, que é a do "psicólogo louco, pirado, encücado, anormal, desequilibrado, diferente: 'Sinceramente, o psicólogo é visto como um maluco problemático que, além de seus problemas, ainda quer resolver os dos outros'; 'O psicólogo é visto como um indivíduo cheio de problemas que não tem capacidade de resolver o problema de ninguém'; 'Geralmente como um 'ser' estranho e muitas vezes ouve-se dizer 'todo psicólogo é louco'". Nos cartuns, as representações tendem a oscilar entre o psicólogo onipotente e são e o psicólogo impotente e louco, com prevalência da primeiro. Se tais representações refletem ou não a realidade, cabe uma discussão. Mas considero essencial, especialmente neste momento em que comemoramos 50 anos da Psicologia no Brasil, refletirmos o quanto estamos presos a estas representações da nossa profissão. Porque se não o fizermos, corremos o risco de permanecermos engessados pelo poderoso Efeito Pigmaleão.







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