Entrevista com coordenador do mestrado integrado em psicologia experimental da Universidade do Minho
Psicologia

Entrevista com coordenador do mestrado integrado em psicologia experimental da Universidade do Minho


O professor Emanuel Pedro Viana Barbas Albuquerque, além de diretor do curso de psicologia (ver entrevista anterior), também é o coordenador do Mestrado Integrado em Psicologia Experimental. Fiz algumas perguntas sobre a escolha pela área, a perspectiva de emprego e sobre sua trajetória profissional.


CientíficaMente - Por que há tão poucas vagas no mestrado em psicologia experimental (são 8 vagas?)

Porque não valia a pena haver 20 porque não há tantos candidatos. Nós estimamos que cerca de 10% dos alunos que entram em nosso curso de psicologia queiram o mestrado nessa área. Outro motivo é que nós entendemos que o numero de alunos reduzido é o ideal para trabalhar depois na dissertação, porque nós professores ficamos com um ou dois alunos cada um, o máximo para desenvolvermos um trabalho mais próximo. Temos quatro áreas de investigação, a percepção, a memória, a linguagem e comportamento animal. Abrimos uma ou duas vagas para cada uma dessas áreas. O que queremos, de fato, é trabalhar com poucas pessoas, para um trabalho mais acompanhado.

CientíficaMente - Por que o senhor achar que a procura pelo mestrado em psicologia experimental é tão baixa?

Eu acho que as pessoas não pensam na psicologia como uma possibilidade de área de investigação. Há alunos que se confrontam com este outro lado da psicologia, com uma investigação mais básica, já mais tarde no curso. A formação em psicologia é muito centrada na clínica. Mesmo algumas das cadeiras consideradas básicas são clínicas, como a de psicopatologia, psicologia do desenvolvimento, psicologia da educação, dada com um enfoque escolar mais centrado na intervenção. Os alunos se confrontam com essa possibilidade de fazer investigação somente quando chegam aos laboratórios. Aí sim, tem o laboratório de memória, animal, percepção, e aí é a primeira vez que entram em contato com estes temas. E, claro, há pessoas que gostam de investigação e outras que não. Há quem se assuste, e há quem considere um desafio. Portanto, se cada um de nós professores conseguíssemos captar um ou dois alunos, seria ótimo. Mas a procura tem muito a ver com a representação que se tem da psicologia. Quando alguém pensa em medicina, pensa em intervenção médica, quase ninguém pensa na investigação bioquímica, tem a ver com isso.

CientíficaMente - Na minha percepção, professor, aqui na UMinho essa ligação da psicologia com clínica ainda é menor do que em outros lugares, porque os alunos ainda têm uma chance de encontrar o contato, com os laboratórios [os laboratórios são parte obrigatória da grade curricular, e correspondem a treinos em pesquisa. Saiba mais lendo sobre a grade curricular do curso de psicologia na UMinho).

Sim, é verdade, há universidades em que isso não acontece. Há universidades em que essa componente experimental é muito reduzida ou nula. Há nichos na investigação em psicologia experimental nas diversas universidades. Algumas universidades são mais clássicas, outras menos, e isso tem reflexos em como os alunos se aproximam de nós, dessa área.

CientíficaMente - Quais são as perspectivas de emprego na área?

É evidente que quem vem para a área de experimental é interessado na investigação. Nesse sentido, eu diria que quando alguém termina o curso, qual o horizonte que tem, já não é o que acontecia há 20 anos, que era ir para uma empresa. Hoje as coisas são pensadas mais a curto prazo. Para quem faz o mestrado em experimental e é bom, podemos oferecer o doutoramento, que dura 3 ou 4 anos, com bolsa garantida. Cerca de 96% dos alunos que estão a fazer o doutoramento aqui têm bolsa. Isso porque estão em um centro de investigação renomeado. E isso é importante para se conseguir uma bolsa. Portanto, a curto prazo, uma fonte de renda é a bolsa de doutoramento. A seguir, pode-de fazer um pós-doc. Eu diria que, para alguém que termina o curso ter uma perspectiva de emprego, primeiro pode se manter com as bolsas por uns anos. E depois, pode ter alguma dificuldade de arrumar emprego, mas é o que acontece em várias áreas. Engenheiros têm um emprego, mas aquilo vai acabar dali a um tempo, e aí, o que vou fazer? Várias áreas se deparam com essa questão de o que fazer depois que essa fonte de renda acabar. O mercado de trabalho não está fácil para ninguém.

CientíficaMente - Nessa área, o forte é a carreira acadêmica...

Sim, é. Aqui em Portugal ainda não há um percurso profissional para a investigação em psicologia experimental, mas há possibilidade de se trabalhar. Na área de sensorial, por exemplo, ontem eu estava a ouvir uma reportagem sobre um departamento de análise sensorial em uma cervejaria. Trata-se da aplicação da psicofísica clássica. Na área da memória, pode-se trabalhar na reabilitação cognitiva. Acho que é preciso ser empreendedor, é preciso ter vontade de fazer coisas. Isso pode ser motor para que pessoas criem sua própria empresa, seu próprio serviço.

CientíficaMente - Por que o senhor escolheu a área da psicologia experimental?

A minha formação é em clínica. Eu estava a freqüentar a área de clínica no quinto ano, a estagiar em um centro de saúde mental, e surgiu uma vaga para monitor na área de memória humana. Comecei então a dar aulas aos meus próprios colegas, do primeiro ano. Como era uma área que gostava, a partir dali nunca mais saí. Depois de ter terminado o curso ainda dei consulta por um ano, e depois achei que aquilo não tinha a ver comigo. Daí comecei a investigação com memória e faces humanas, e fiquei até hoje. Vim para a UMinho em 1993, e aqui fiquei.



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