Psicologia


A Hipnose

Freud teve seu primeiro contato com a hipnose quando ainda era estudante, assistindo uma apresentação de Hansen "o magnetizador", através da qual assegurou-se da validade dos eventos hipnóticos. Por volta de seus vinte anos soube que um médico de prestígio em Viena, o doutor Joseph Breuer (seu futuro colaborador), também utilizava, em alguns casos, a hipnose com fins terapêuticos. Nesta época, a maior parte da comunidade médica e da população não viam a hipnose como uma técnica médica séria e, acreditavam que ela poderia trazer males aos que se submetessem ao método.

Um dos maiores cientistas que trabalharam com a hipnose foi o francês Jean-Martin Charcot (1825-1893), que orientou Freud no período entre outubro de 1885 e fevereiro de 1886 em Paris (hospital Salpêtrière), que colocava a hipnose como um fenômeno fisiológico. Outro grande nome era o de Bernheim, que reduzia a hipnose a um fenômeno gerado pela sugestão.

Em carta a Fliess de 28 de dezembro de 1887 Freud comenta ter passado a fazer uso do tratamento hipnótico em sua clínica com êxito superiores aos demais métodos que aplicava (hidroterapia, eletroterapia, massagens, repouso e alimentação abundante - método de Mitchell). Freud salienta em seu Estudo Autobiográfico que "desde o princípio, usei a hipnose de uma outra maneira, diferente da sugestão hipnótica", referindo-se ao método catártico utilizado por Breuer. É interessante relatar aqui que em 1893 Freud publicou um artigo intitulado Um caso de cura pelo Hipnotismo, no qual narra a cura de uma paciente histérica em apenas três seções, pelo método da sugestão, método que consistia em retirar os sintomas dando "sugestões" que eliminavam os sintomas, como por exemplo, quando um paciente não conseguia mover seu braço (que não tinha nenhum dano orgânico), então durante a hipnose lhe era dito que após despertar do sono hipnótico (ou no dia seguinte) seu braço voltaria a funcionar normalmente.

O procedimento hipnótico foi assim descrito por Freud: "Colocamos o paciente numa cadeira confortável, pedimos que se mantenha cuidadosamente atento e que não fale mais, pois falar lhe impediria o adormecer. Remove-se-lhe qualquer roupa apertada e pede-se a quaisquer outras pessoas presentes que se mantenham numa parte da sala onde não possam ser vistas pelo paciente. Escurece-se a sala, mantém-se o silêncio. Após esses preparativos, sentamo-nos em frente ao paciente e pedimos-lhe que fixe os olhos em dois dedos da mão direita do médico e, ao mesmo tempo, observe atentamente as sensações que passará a sentir. Depois de curto espaço de tempo, um minuto, talvez, começamos a persuadir o paciente a sentir as sensações do adormecer. Por exemplo: "Estou reparando que as coisas estão indo rápido no seu caso: seu rosto assumiu um aspecto fixo, sua respiração ficou mais profunda, você ficou muito tranquilo, suas pálpebras estão pesadas, seus olhos estão piscando, você não pode mais ver com muita clareza, logo terá de engolir, depois vai fechar os olhos - e você está dormindo". Com essas palavras e outras semelhantes, já estamos propriamente no processo de "sugerir", que é como podemos chamar a esses comentários persuasivos durante a hipnose".

No verão de 1889, em visita a Nancy, Freud busca aprimorar sua técnica hipnótica com Bernheim, que não consegue hipnotizar uma paciente de Freud - que l[a a levou pela mesma dificuldade - e confessa que em sua clínica não conseguia muitos êxitos, os quais costumava ter apenas no tratamento hospitalar.

Conforme conferência proferida em 1904 (VOL7, PAG 270) Freud afirma ter abandonado a prática da hipnose (exceções feitas a algumas experiências) em 1896, os motivos foram, conforme esclarecido em Cinco Lições (1910 - Vol. XI, pág. 24): "Mas logo a hipnose passou a me desagradar... Quando verifiquei que apesar de todos os meus esforços, não conseguia produzir o estado hipnótico senão numa parte dos meus pacientes, decidi abandonar a hipnose...".

Já nos Estudos sobre a Histeria (Breuer e Freud) existem casos tratados por métodos distintos, como a hipnose (que aos poucos foi abandonada, principalmente por não ser aplicada em todos os pacientes), o método da pressão (que era, segundo o próprio Freud, um mero "artifício técnico") e a simples conversa (que viria a se tornar no método de associação livre).

Sobre o método da pressão podemos citar dos Estudos sobre a Histeria: "Nessas circunstâncias, valho-me em primeiro lugar de um pequeno artificio técnico. Informo ao paciente que, um momento depois, farei pressão sobre sua testa, e lhe asseguro que, enquanto a pressão durar, ele verá diante de si uma recordação sob a forma de um quadro, ou a terá em seus pensa-mentos sob a forma de uma idéia que lhe ocorra; e lhe peço encarecidamente que me comunique esse quadro ou idéia, quaisquer que sejam. Não deve guardá-los para si se acaso achar que não é o que se quer, ou não são a coisa cena, nem por ser-lhe desagradável demais contá-lo.... Depois de dizer isso, pressiono por alguns segundos a testa do paciente deitado diante de mim; em seguida, relaxo a pressão e pergunto calmamente, como se não houvesse nenhuma hipótese de decepção: "que você viu?", ou "que lhe ocorreu?" Esse método muito me ensinou e também nunca deixou de alcançar sua finalidade. Hoje, não posso mais passar sem ele. Naturalmente, estou ciente de que a pressão na testa poderia ser substituída por qualquer outro sinal, ou por algum outro exercício de influência física sobre o paciente, mas, já que o paciente está deitado diante de mim, pressionar sua testa ou tomar-lhe a cabeça entre minhas mãos parece ser o modo mais conveniente de empregar a sugestão para a finalidade que tenho em vista. Ser-me-ia possível dizer, para explicar a eficácia desse artificio, que ele corresponde a uma "hipnose momentaneamente intensificada", mas o mecanismo da hipnose me é tão enigmático que eu preferiria não utilizá-lo como explicação. Sou, antes, de opinião que a vantagem do processo reside no fato de que, por meio dele, desvio a atenção do paciente de sua busca e reflexão conscientes - de tudo, em suma, em que ele possa empregar sua vontade - do mesmo modo que isso é feito quando se olha fixamente para uma bola de cristal, e assim por diante".




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