Psicologia Humanista
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Psicologia Humanista


A psicologia humanista surgiu na década de 50, ganhando força nos anos 60 e 70, como uma reação às idéias psicológicas pré-existentes - o behaviorismo e a psicanálise - embora não quisesse revisá-las ou adaptá-las, mas dar uma nova contribuição à psicologia.

As críticas ao comportamentalismo giravam em torno de sua abordagem estreita, artificial e estéril da natureza humana, que reduzia o homem à máquinas e animais propensos ao condicionamento. A divergência à psicanálise se mostrava no questionamento à ênfase no inconsciente, nas questões biológicas e eventos passados, no estudo de pessoas neuróticas e psicóticas e na compartimentalização do indivíduo.

Heidegger
O movimento humanista teve forte influência das filosofias existenciais e da fenomenologia. As convicções e as certezas começam a ruir no século XX, quando a razão começa a entrar em crise devido à existência da corrida armamentista e à pouca contribuição dos avanços tecnológicos na diminuição da desigualdade social no mundo. O existencialismo tem o homem como ponto de partida nos processos de reflexão e a fenomenologia, a consciência do ser sobre algo, a investigação da experiência consciente: o fenômeno. Com o filósofo Heidegger, há um retorno à teoria do conhecimento e das questões ontológicas. O ser e a existência do todo passa a ser a questão central.

O existencialismo fenomenológico, enquanto método apreendido pelo movimento humanista, se pauta em três questões:
  1. Redução fenomenológica: Recurso para se chegar ao fenômeno em sua essência, considerando a sua totalidade e visando, deste modo, a incorporação de uma atitude crítica perante o cotidiano. A concordância entre a intuição, que ocorre na imediatez da vivência, e a significação se faz essencial para a aproximação da realidade observada. A busca pela essência do sintoma permite a recapitulação da realidade total, pois somente ela consente o conhecimento dos fatos.
  2. Intencionalidade: Atribuição de sentido do fenômeno, onde a consciência e o objeto, o sujeito e o mundo estão unificados. Quando esta fusão ocorre, a totalidade é apreendida e a decisão torna-se um processo consciente e libertador. O sujeito pensante e o objeto pensado tornam-se uno. A intencionalidade só surge após a compreensão da realidade, obtida, por sua vez, pela redução fenomenológica.
  3. Subjetividade e Intersubjetividade: O encontro entre a própria subjetividade e a do outro é chamado de intersubjetividade. É ela que, através da pluralidade de constituições de vários sujeitos, dá sentido ao mundo. O acoplamento entre a intra-subjetividade e a intersubjetividade é a única forma de efetivação de uma comunicação verdadeira, que faculta a chegada à essência.
É importante frisar que a fenomenologia não visa a explicação do objeto; as coisas, sim, que quando apreendidas, se tornam um momento fenomenológico. A função de sua abordagem é permitir a elaboração de conceitos que expressem adequadamente o fenômeno que se pretende estudar. São estes conceitos que auxiliam a pessoa a como proceder no dia-a-dia, uma vez que a história só é construída à medida que as coisas recebem significados. Logo, embora a realidade exista per si, sofre ressignificação no encontro com a realidade íntima de cada um, o que a torna fluída. O processo terapêutico deve, portanto, conectar a experiência interior ao mundo da objetividade.

A grande contribuição desta nova escola pode ser vista na ênfase da experiência consciente, na crença na integralidade entre natureza e a conduta do ser humano, no livre-arbítrio, espontaneidade e poder de criação do indivíduo, e no estudo de tudo que tenha relevância para a condição humana. Somente mediante a perspectiva da totalidade, que a consciência é entendida. Esta, por sua vez, deve ser submetida à temporalidade, impedindo-a de ficar estática e desmistificando a existência de uma realidade pura. Seu valor reside na relação que estabelece entre as realidades. Experienciar o tempo presente como uma totalidade que sinaliza a integração eu-mundo é fundamental para a libertação das exigências compulsivas do passado e futuro.

A aplicação prática dos conceitos da fenomenologia existencial revelará a direção na formulação de uma nova percepção e na solução de problemas por meio de uma mudança consistente. A lógica da mudança passa por passos - partes, totalidade, consciência, intencionalidade e ação - que devem ser trabalhados na terapia.

O otimismo acerca da liberdade e do potencial humano é bastante revelador das crenças do movimento. Para atingi-los, a terapia faz uso da mais alta gama de instrumentos, desde a validação da introspecção e da intuição como fonte preciosa de informação, até a análise da literatura.

Abraham Maslow
A teoria humanista tem como principais teóricos Abraham Maslow (1908-1970) e Carl Rogers (1902-1987), os maiores responsáveis pela projeção dos seus postulados no mundo. O primeiro, americano, foi considerado o pai espiritual do movimento humanista. Maslow abandona o comportamentalismo, abraçado no início de sua carreira, por passar a acreditar na tendência inata que cada pessoa traz em si para se tornar auto-realizadora. Este seria o nível mais alto da existência humana, onde a realização do potencial de cada indivíduo seria conquistada. A existência de níveis a serem satisfeitos foi proposta por ele através da hierarquia das necessidades.

De acordo com Maslow, estas necessidades seriam inatas e deveriam obedecer a uma ordem de saciação, que se encontra representada na pirâmide abaixo. A grande novidade trazida por Maslow, para a psicologia, foi os estudo de pessoas, consideradas por ele, saudáveis, através dos quais formulou suas teorias.

Pirâmide de Maslow: Hierarquia das Necessidades

Carl Rogers
O segundo, também americano, teve o seu trabalho pautado no valor do indivíduo desde o início. Diferentemente do seu contemporâneo, suas visões advieram do tratamento de indivíduos emocionalmente perturbados. Rogers trabalhou com um conceito semelhante ao da auto-realização de Maslow: a existência de uma única motivação avassaladora que se configura na tendência inata que cada pessoa tem de atualizar as capacidades e potenciais do eu, a tendência atualizante. Ele também defendeu a idéia de autoconceito como sendo um padrão organizado e consistente de características percebidas em cada um desde a infância. Na medida em que se acumulam novas experiências, este conceito pode ser reforçado ou ser substituído por novos. Experiências infantis podem ajudar ou prejudicar a auto-atualização, ainda que esta seja inerente ao homem, mas, de forma alguma, são podem ser consideradas determinantes.

A capacidade do homem de poder alterar consciente e racionalmente seus pensamentos e comportamentos indesejáveis fornece ao presente um grande peso na formação da personalidade do indivíduo. Para ele, os indivíduos bem ajustados psicologicamente têm autoconceitos realistas, sendo a angústia psicológica advinda do impasse ou desarmonia entre o autoconceito real (o que se é de fato) e o ideal para si (o que se deseja ser).

Por isso, Rogers defendia que o cliente deveria determinar o conteúdo e a direção do tratamento, uma vez que este tem dentro de si vastos recursos para o auto-entendimento e para alterar o autoconceito. O termo terapia centrada no cliente deriva desta idéia e esta é encarada apenas como um facilitador.

Críticas

As principais críticas ao movimento são atribuídas ao seu escopo vago e à sua falta de cientificidade, tendo seus próprios expoentes reconhecido a sua não aceitação na filosofia da ciência. Tal fato é notado na pouca porcentagem (1%) destinada à psicologia humanista nos livros da área e, ainda assim, fazendo menção apenas à hierarquia das necessidades de Maslow e à terapia centrada na pessoa de Rogers, embora 15% dos psicólogos atuantes no mundo tenham adotado tal linha. Outros pontos questionáveis desta teoria são a crença de que sua prática não daria suporte necessário às pessoas com distúrbios mais graves, e a confiança na formulação do autoconceito do cliente durante o seu tratamento. Muitos estudiosos, ainda, não a consideram diferenciada suficientemente da gestalt a ponto de justificar a existência de um nome próprio.

Tudo isso fez com que a Psicologia Humanista tenha sido considerada pelos seus próprios formuladores apenas uma experiência. Não obstante as críticas, a promoção de métodos terapêuticos que acentuam a auto-realização, a responsabilidade pessoal e a liberdade de escolha, além da consideração do contexto familiar, social e de trabalho em que a pessoa se insere, foram de suma importância na ratificação de mudanças já em curso.

No Brasil, a ditadura era uma realidade, ainda que, no mundo, houvesse grande incentivo à liberdade de escolha. Apesar dos entraves políticos, a influência humanista é sentida aqui quando há, finalmente, o processo de regulamentação da profissão e estabelecimento do curso com a lei 4119 de 27 de agosto de 1962. Neste currículo, já aparece de forma seminal a psicologia humanista.

Carl Rogers
O psicólogo Carl Rogers, conhecido internacionalmente, veio ao país – mais precisamente ao Rio de Janeiro e Recife -, para realizar workshops e difundir suas idéias. Em entrevista à revista Veja em 1977, Rogers cita os principais pontos de sua teoria e afirma, categoricamente, que a abordagem centrada na pessoa é de fácil convivência na democracia.

A grande aceitação da abordagem de Rogers, no Brasil, aconteceu principalmente nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e na Capital Federal, onde vários centros divulgam e formam psicólogos especialistas na abordagem centrada na pessoa.

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Fonte: http://psiquehumanista.blogspot.com.br



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