SÃO PAULO - O marido de uma paciente é o principal suspeito de ter encomendado a morte da psicóloga Renata Novaes Pinto, de 44 anos, assassinada na manhã de quinta-feira, por volta de 7h15m, após deixar os filhos na escola. O suspeito acreditava que Renata pudesse ter levado ao processo de separação do casal.
- Podemos descartar latrocÃnio (matar para roubar). O motivo do assassinato tem relação com o seu trabalho profissional - comentou o delegado Jorge Carlos Carrasco, titular da 3ª Delegacia Seccional.
Segundo testemunhas, Renata chegou a comentar sobre a paciente e seu marido. A mulher que Renata atendia havia feito boletim de ocorrência, queixando-se à polÃcia de que ocupantes de uma moto a perseguiam. Ela anotou a placa. Os policiais pesquisaram. Chegaram ao nome de um detetive particular que tem antecedentes criminais. O marido da paciente, inconformado com o pedido de separação, também suspeitava de traição e, por isso, teria contratado os serviços do detetive.
Renata deixou os quatro filhos na escola, no Butantã. Normalmente, dali seguiria direto para o trabalho. Menos à s quintas-feiras, por causa do rodÃzio do seu carro. Ela voltou para a sua casa para trocar de veÃculo. Ela pegaria o Fiat Doblô do marido e, então, iria para a Unifesp.
Minutos antes de Renata parar o carro na porta de casa, uma moto com dois homens parou a 30 metros da residência. O garupa, de blusa moleton vermelho, desceu com capacete e foi em direção do Ford Fiesta. Quando Renata abriu a porta do carro, ele disparou três vezes. Não disse nada. O matador montou na garupa da moto e saiu em disparada cobrindo a placa da motocicleta. Renata, baleada na cabeça, foi levada por ambulância ao Hospital das ClÃnicas, onde morreu.
A principal testemunha do homicÃdio de Renata é um homem que trabalhava em frente do local do homicÃdio. Ele presenciou o crime a menos de dez metros. Segundo o homem, que pediu para não ser identificado, a maior preocupação dos criminosos foi esconder a placa da moto. "Esconde a placa, esconde a placa", foi o que disse o piloto depois dos disparos do comparsa. "Eles ficaram olhando para mim, mas eu me escondi atrás da arvore, pensei que eles iriam me matar", disse o marceneiro. A moto usada no crime é de baixa cilindrada, cor prata.
A polÃcia tem imagens de uma câmera instalada em uma padaria do bairro que mostra os assassinos na moto. As equipes do Setor de Investigações Gerais (SIG) refizeram os possÃveis caminhos que Renata utilizou para levar os filhos à escola, no Butantã, também na Zona Oeste. O que os policiais ainda não têm certeza é se os criminosos seguiram o carro da psicóloga. E por isso, querem saber se, no caminho, há estabelecimentos comerciais com sistema de câmera que permita uma possÃvel identificação dos criminosos.
A polÃcia acredita que a motocicleta utilizada pelos matadores não tenha queixa de furto ou roubo. Isso porque o motorista da moto mandou o garupa cobrir a placa, indicando que o veÃculo não poderia ser identificado. As caracterÃsticas da moto usada no crime são semelhantes à s da moto que seguia a paciente de Renata.
O advogado Sergio Henrique Cardoso, de 49 anos, marido da vÃtima, entrou em estado de choque. De dentro da casa, ele ouviu dois tiros. Viu, pela janela, os assassinos fugirem na moto.
Lisboa não conseguia assimilar a morte da companheira, principalmente porque a deixou um tanto brava logo de manhã. Renata queria que ele levasse os quatro filhos para a escola. Sérgio, alegando estar atrasado, pediu à mulher que o fizesse. Disse para a psicóloga que deixaria o café pronto. Renata saiu pisando duro. Ao lembrar disso na delegacia, durante seu depoimento, o advogado passou mal. Vomitou.
Renata e Cardoso eram casados há 18 anos. O casal tem quatro filhos, com idades entre 9 e 15 anos. Tanto o marido, que trabalha como corretor de imóveis, quanto os vizinhos descrevem a relação familiar como harmônica.
Na vizinhança da Rua Judite, na Vila Madalena, Zona Oeste de São Paulo, a psicóloga era vista como uma pessoa simpática e normal. "Ela sempre saÃa para passear com o cachorro e cumprimentava todo mundo. Uma pessoa reservada, mas muito simpática", diz a dona de uma pizzaria em frente à casa onde a psicóloga vivia.
Renata se formou em psicologia pela PontifÃcia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1986. A psicóloga entrou na Unifesp há dez anos. Em 1998, ela iniciou a pesquisa para a tese "A comunicação do diagnóstico em pacientes com câncer", que lhe valeu o mestrado em psiquiatria e psicologia médica, obtido em 2001. Já em 2002, ela foi efetivada como funcionária da instituição. Renata era professora de psicologia do diagnóstico para alunos do 2 ano de medicina. Além disso, trabalhava no atendimento psicológico a pacientes de outros setores da Unifesp.