Por que mudar é difícil?
Psicologia

Por que mudar é difícil?


Uma das coisas mais complexas que existem é a mudança duradoura de comportamento. Observamos todos os dias as pessoas, e nós mesmos, dizendo que tal comportamento não nos faz bem e que vamos mudá-lo. Contudo, nem sempre isso acontece de maneira fácil, nem rápida, e é bastante comum que continuemos, após certo tempo, mantendo o mesmo padrão de comportamento. Uma das causas que parece manter a estabilidade do comportamento é o aumento de ansiedade que essa mudança gera.

Por mais que racionalmente compreendamos que tal mudança será benéfica para nós, existe um empecilho: mudar de comportamento significa, primeiramente, analisar o comportamento atual. Aqui começa o problema, pois ao fazer isso, nos damos conta de que muitas coisas importantes que acreditamos na verdade não existem, e isso aumenta o nível de ansiedade. Durante o processo evolutivo, a redução da ansiedade foi um mecanismo importante que colaborou para a manutenção da vida, porque ansiedade em intensidade elevada e/ou por tempo prolongado causa danos ao organismo. Sempre que temos elevados nossos níveis de ansiedade, disparamos mecanismos que tentam reduzir-la, e um dos primeiros movimentos que ocorrem é a tentativa de remoção do estímulo aversivo. Em outras palavras, se começar a pensar sobre nosso comportamento é algo que aumenta a ansiedade, a forma mais fácil de reduzir esta ansiedade é simplesmente parar de pensar.

Vamos imaginar, por exemplo, uma situação de conflito onde a mudança de comportamento seria benéfica: um filho adulto em conflito com a mãe, cuja fonte de atrito é o desejo por parte da mãe de ter o filho mais perto em termos afetivos contra o desejo do filho em ter mais autonomia. Quando este conflito surge, desperta sentimentos de raiva, ansiedade e desconforto em ambos. Na discussão, cada um demonstrará ter razão, pelo seu ponto de vista (a mãe sente falta do apoio emocional do filho; o filho sente-se pressionado e com sua liberdade ameaçada). Ao fim da briga, ora um cede, ora outro cede: o filho aproxima-se da mãe novamente, em termos afetivos, e a mãe, por sua vez, dá um pouco de espaço para o filho, por algum tempo. Desta forma, a ansiedade é aumentada, num primeiro momento, e depois reduzida a níveis suportáveis para ambos. Entretanto, outras brigas virão, porque a fonte que está provocando a ansiedade não foi tocada.

Mas o que aconteceria se um destes dois protagonistas começasse a pensar na relação que tem com o outro, sobre seus comportamentos, sentimentos e as consequências disso? Vamos supor que a mãe começa a pensar sobre a criação do seu filho, em como se dedicou a ele e como ele está sendo ingrato ao não corresponder aos sentimentos dela. Isso certamente vai despertar os sentimentos de ansiedade, que pode desencadear a briga, pelo pressuposto: "Aproxime-se de mim, me dediquei a você e agora estou me sentindo mal porque não sinto que você corresponde a tudo o que fiz". Se, ao invés de iniciar a briga, a mãe continuasse pensando sobre as causas de seu desconforto e quais as consequências que isso gera para todos, poderia se dar conta que se dedicou de forma intensa para o filho porque, na verdade, estava se sentindo desvalorizada em outras áreas, como por exemplo, na relação com seu companheiro ou com a sua família de origem. É bem provável que esse tipo de pensamento iria gerar muito mais ansiedade, aumentando o sofrimento já experimentado no presente pela briga.

Por parte do filho, se ele também observasse que a ansiedade que está sentindo quando briga com sua mãe está sendo alimentada, muitas vezes, por comportamentos do passado, teria, assim como ela, aumentado o seu nível de ansiedade. Então, ainda gera menos sofrimento toda a ansiedade produzida pela briga atual do que "mexer" nas coisas que aconteceram no passado e que estão alimentando os conflitos do presente: quando a briga termina, a ansiedade baixou, mas ninguém pensou em tocar na fonte dos problemas. Ou se pensou, não foi forte o suficiente a ponto de mudar seu comportamento de forma significativa.

Então, o que dificulta muito a mudança do comportamento não é falta de capacidade de pensar sobre nossos problemas, mas sim uma espécie de "armadilha" emocional que visa a preservação do funcionamento do sistema nervoso - a evitação dos sentimentos de ansiedade. Sempre que pensar sobre algo gera ansiedade, a primeira reação será combater este pensamento. Como isso geralmente dá certo, podemos compreender então porque é tão comum que as pessoas pensem pouco sobre seus próprios comportamentos e tenham tanta dificuldade de mudá-los. Entretanto, pensar sobre o comportamento e efetuar as mudanças, mesmo que doloroso, tende a trazer a longo prazo mais benefícios, pois os conflitos já compreendidos e trabalhados tendem a exigir menos do sistema nervoso, disparando menos os mecanismos de ansiedade e aumentando a qualidade de vida.



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