As pessoas se habituaram a ficar com seus celulares, computadores ou tablets conectados à internet 24 horas por dia e quando se percebem sem o seu aparelho ou sem conexão, a ansiedade dessas pessoas sobem a um nível assustador. Médicos ingleses chamam essa necessidade de manter-se conectado o tempo todo de nomofobia. O nome vem de “no mobile phobia”, que traduzido seria “medo de ficar sem celular”. O celular parece que virou uma extensão do corpo.
Já ouvi relatos do tipo: “se não estou com meu celular me sinto pelado (a), fico totalmente perdido (a), fico ansioso (a), não consigo me concentrar direito, sinto tensão nos ombros e quero sair logo de onde estou e pegar meu celular, e não basta só o celular é preciso estar conectado à internet, vai que nesse meio tempo eu recebo um torpedo, ou e-mail ou algo de interessante acontece e eu fico sabendo só mais tarde, aí já fiquei pra trás”.
É frequente ouvir relatos como este e a partir dele percebemos que o uso exagerado desses dispositivos eletrônicos portáteis (celulares, tablets, iphones, mp3, notebooks), conhecidos também como gadgets, não só está afastando as pessoas, mas também está causando outros tipos de problemas à saúde, entre eles estão a obesidade, problemas de postura (dores nas costas e pescoço), problemas visuais, insônia, dificuldades de aprendizagem e o mais comum nos consultórios de psicologia e explícito no relato acima, são os chamados transtornos de ansiedade.
A ansiedade é definida como um estado de humor desconfortável, acompanhada de sensações físicas como: frio no estômago ou na espinha, opressão no peito, palpitações, transpiração, dor de cabeça, falta de ar, dentre outros sintomas.
A ansiedade é um sinal de alerta, que adverte sobre perigos iminentes e capacita o indivíduo a tomar medidas para enfrentar ameaças. A ansiedade prepara o indivíduo para lidar com situações potencialmente danosas, como punições ou privações, ou qualquer ameaça a unidade ou integridade pessoal, tanto física como moral. Desta forma, a ansiedade prepara o organismo a tomar as medidas necessárias para impedir a concretização desses possíveis prejuízos, ou pelo menos diminuir suas consequências. Portanto a ansiedade é uma reação natural e necessária para a autopreservação.
Segundo Andrade e Gorenstein (1998), a ansiedade é um estado emocional que faz parte do espectro normal das experiências humanas e apresenta componentes psicológicos e fisiológicos.
Bernik (1999) afirma que quatro componentes estão presentes nas manifestações de ansiedade, ou seja, manifestações cognitivas (pensamentos de apreensão quanto a um desfecho negativo de uma situação), emocionais (vivencias subjetivas de desprazer ou desconforto), comportamentais (inquietação, sobressalto, evitação, etc.) e somáticas (hiperatividade autonômica, tensão muscular, etc.).
A ansiedade passa a ser patológica quando não existe um objeto específico ao qual se direcione ou quando é desproporcional à situação que a desencadeia. Uma pessoa que tenha uma reação ansiosa inadequada e/ou extrema ou de longa duração a um determinado acontecimento pode estar sofrendo de algum tipo de transtorno de ansiedade. De acordo com o DSM IV os transtornos de ansiedade classificados são: transtorno de pânico com ou sem agorafobia, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de estresse agudo, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade devido a uma condição médica geral, transtorno de ansiedade induzida por substância, transtorno de ansiedade não especificado, agorafobia sem história de transtorno de pânico, fobia específica, fobia social.
O padrão comportamental característico dos transtornos de ansiedade, de acordo com grande parte da literatura, é a esquiva fóbica: na presença de um evento ameaçador ou incômodo, o indivíduo emite uma resposta que elimina, ameniza ou adia esse evento. O que diferencia cada um destes transtornos é o tipo de evento experimentado como ameaçador ou incômodo e/ou o tipo de resposta na qual o sujeito se engaja de forma a produzir uma diminuição do contato com o estímulo aversivo (processos de fuga/esquiva). As respostas envolvidas nesse processo podem ser classificadas topograficamente como respostas de evitação e/ou eliminação do estímulo temido, assim como respostas de verificação ou outras respostas repetitivas que pospõem ou eliminam temporariamente a ameaça da apresentação desse estímulo. (Banaco e Zamignani, 2004). A evitação ajuda a manter os sintomas de ansiedade, pois impede o indivíduo de aprender que o objeto temido de fato não é perigoso, ou pelo menos não é tão perigoso quanto o paciente imagina.
Dentre os transtornos de ansiedade a fobia social é um dos transtornos mais comum que está por trás do uso excessivo dos gadgets. Virtualmente o fóbico social se mostra como ele gostaria de ser na realidade. Ele se comunica com o mundo por trás das telas. Os fóbicos sociais dizem que gostaria de se comunicar tão bem no seu círculo de convivência real assim como fazem em seu mundo virtual. A internet é considerada por eles um ambiente seguro para se relacionar com os amigos virtuais, uma vez que é um ambiente repleto de reforços e bem menos aversivo. No facebook a cada curtida ou comentário (reforço positivo) que ele recebe em suas postagens demonstra o quão popular ele é “virtualmente”. Quanto mais curtidas e mais comentários receber maior a probabilidade de que este comportamento seja repetido no futuro.
Um aplicativo que vem sendo bastante utilizado por jovens é o Line, a propaganda diz “Fale menos, Line mais. Você diz muito mais com os milhares de stickers do Line”, uma ferramenta e tanto para os fóbicos sociais, uma vez que eles sentem-se acuados quando as pessoas olham para eles. Imaginam que quando estão sob a mira do olhar do outro estão sendo observado e avaliado, o que aumenta o grau de ansiedade. Neste aplicativo é possível as pessoas se comunicarem por mensagens e demonstrarem suas emoções/sentimentos através desses stickers divertidos.
As pessoas diagnosticadas com este transtorno (FS) apresentam uma hipersensibilidade a críticas, mantêm uma avaliação negativa a respeito de si mesma, se sentem inferiorizadas, e apresentam grande dificuldade em serem assertivas (Lamberg, 1998; Stopa; Clark, 1993). Um comportamento assertivo envolve a afirmação dos próprios direitos e a expressão de pensamentos, sentimentos e crenças de maneira direta, honesta e apropriada, de modo a não violar o direito das outras pessoas (Lange & Jakubowski, 1978).
De acordo com Alberti e Emmons (1973/1978) pessoas que apresentam respostas assertivas em situações sociais, tem um nível de ansiedade baixo em relação às pessoas que tem dificuldade de serem assertivas. Os fóbicos sociais por apresentarem essa dificuldade de serem assertivos apresentam um nível alto de ansiedade em situações sociais. Eles se esquivam a todo custo de qualquer situação social, mas quando é inevitável se expor, os fóbicos sociais o fazem com grande sofrimento e na internet o sofrimento é menor. Por este lado a internet ou as mensagens de texto pelos celulares são grandes aliados dessas pessoas uma vez que a exposição não é ao vivo, eles ficam confortavelmente escondidos atrás das telas, mas por outro lado eles deixam de se expor e continuam nesse ciclo de ansiedade.
A melhor intervenção para o tratamento psicológico da fobia social é a exposição. A técnica de exposição consiste em expor o cliente repetidas vezes e por um tempo prolongado às situações que provocam desconforto ou ansiedade, geralmente maximizando a estimulação aversiva. As exposições geralmente são realizadas de forma gradual, partindo dos estímulos que produzem menor sofrimento ou sofrimento moderado, em direção àqueles mais perturbadores. As sessões de exposição aos estímulos ansiogênicos podem ser realizadas de forma imaginária ou in vivo (exposição real). Além disso, os pacientes são instruídos a engajar-se em exercícios adicionais de exposição entre as sessões terapêuticas (Riggs e Foa, 1999).
O fóbico social evita o contato visual e o uso do celular é muito usado por eles para evitar olhar para as pessoas. Quando ele está numa situação de exposição o ideal é ele não usar o celular ou tablet enquanto estiver na situação social. O uso de celulares traz um alívio momentâneo da ansiedade, pois ele está na situação geradora de ansiedade, mas não a está enfrentando. Quando ele vai para essas situações com seu celular conectado à internet ele continua no seu mundo virtual.
Mas ela (tecnologia) não é todo um mal, não estou atribuindo à tecnologia a causa desses transtornos. Esses problemas sempre existiram, mas com os avanços tecnológicos eles tomaram outra cara. Eu faço uso e muito desses artifícios tecnológicos, imagine como vocês iriam ter acesso a este texto se não fosse ela? Sem ela muita gente não teria a chance de seguir estudando e galgando degraus. Mais de 15% dos universitários brasileiros estão hoje matriculados na modalidade de ensino superior à distância, em que quase tudo é on-line, diz uma reportagem publicada recentemente na Revista Veja. O que dizer então de Skinner que na década de 60, desenvolveu as “máquinas de ensinar”, naquela época ele se mostrou muito a frente de seu tempo, foi um grande avanço tecnológico. E para os fóbicos sociais de plantão, a tecnologia está sendo utilizada em uma pesquisa realizada por uma psicóloga que vem tratando portadores desse transtorno. Com um programa de computador os pacientes são submetidos virtualmente às situações sociais que mais lhe trazem desconforto. O trabalho desta psicóloga tem como base a terapia cognitiva comportamental e a técnica de exposição.
Afinal de contas: A tecnologia pode ajudar? Sim eu acho que a tecnologia pode ajudar, nos dias de hoje é um grande desafio para nós se desconectar da tecnologia. Ninguém mais hoje vive sem a tecnologia, por mais simples que ela seja, seria um retrocesso se eliminássemos todos esses avanços. Eliminar a pesquisa científica significaria, agora, um retorno a forme e à peste, e aos trabalhos exaustivos de uma cultura escrava, como disse Skinner no capítulo “A ciência pode ajudar?” em seu livro “Ciência e Comportamento Humano”. Talvez não seja a ciência que está errada, mas sua aplicação. Talvez não seja a tecnologia que está errada, mas o mau uso dela.
Referências
ALBERTI, R. E.; EMMONS, M. L. (1973/1978). Comportamento Assertivo: um guia de auto expressão. Belo Horizonte: Interlivros.
Andrade, L. H. S. G.; Gorenstein, C. (1998). Aspectos gerais das escalas de avaliação de ansiedade. Revista de Psiquiatria Clínica, 25(6), 285-90.
Banaco, R. A.; Zamignani, D. R. (2004). Um panorama analítico – comportamental sobre os transtornos de ansiedade. PUC. São Paulo. 2004
Bernik, M. A. (1999). Ansiedade Normal e Patológica. Em Benzodiazepínicos. (pp. 59-67). São Paulo: EDUSP.
LAMBERG, L. (1998). Social phobia: Not Just another name for shyness. Journal of Clinical Psychiatry, 60 (suppl 18), 22-26.
SKINNER, B.F. (2000). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes.
STOPA, L & CLARK, D. M. (1993). Cognitive process in social phobia. Behaviour Research and Therapy, 31 (2), 255-267.
RIGGS, D. S.; FOA, E. B. (1999). Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Em: David, H. Barlow: Manual Clínico dos Transtornos Psicológicos. Porto Alegre: Artmed.
Revista VEJA - Edição 2341 - 02 de Outubro de 2013 - A Educação do futuro agora
Tratamento com realidade virtual ajuda a reduzir ansiedade: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/estado/2013/05/06/tratamento-com-realidade-virtual-ajuda-a-reduzir-ansiedade.htm
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O que nos remete o estado de ansiedade?
Como sabemos que estamos com a ansiedade normal ou patológica?
Vou sintetizar, escrevendo o que seria ansiedade.
A ansiedade realista é quando o perigo se mostra real (morte, por exemplo) pois...
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