Psicologia
Fuga x esquiva
Os procedimentos de fuga diferem dos procedimentos de esquiva, nos quais uma resposta evita ou atrasa um estímulo aversivo. Essa terminologia é consistente com o uso cotidiano: fugimos de circunstâncias aversivas presentes, mas nos esquivamos de circunstâncias potencialmente aversivas. Por exemplo, podemos sair de uma festa para fugir de uma companhia que já está ali ou para nos esquivar de alguém que estaria para chegar mais tarde.
O que vemos na figura acima???
Possivelmente o "carinha" está fugindo do outro que o está puxando ou está querendo se esquivar de algum acontecimento que esta por vir....precisamos analisar bem a situação para dizer ao certo o que está acontecendo.
No processo terapêutico pode acontecer os dois procedimentos.
O que fazer se isso acontecer???
Se o cliente foge ou se esquiva da terapia, provavelmente ele (a) não está preparado para o processo terapêutico (cada cliente tem seu tempo; o cliente ao solicitar ajuda terapêutica, está sob controle de contingências aversivas, mas precisamos ter sensibilidade de perceber e respeitar o tempo do cliente), ou estamos sendo uma audiência punitiva.
Para que os repertórios, que estão sob controle aversivo, possam ser emitidos pelo cliente, o terapeuta precisa atuar como uma audiência não-punitiva (Skinner, 1994). Os efeitos da audiência não-punitiva são descritos por Skinner (1994) da seguinte maneira:
"Se esse comportamento estava inteiramente reprimido, pode a princípio alcançar apenas o nível encoberto; o indivíduo pode se comportar verbal ou não-verbalmente "consigo mesmo"... O comportamento mais tarde pode vir a ser trazido ao nível aberto. O paciente pode também começar a exibir emoções fortes: pode ter uma crise de choro, dar uma demonstração violenta de temperamento, ou ficar "histericamente" doente" (p. 350).
Se, por um lado, os efeitos da audiência não-punitiva são de fundamental importância para o processo terapêutico, por outro pode-se afirmar que tais efeitos, pelo menos no primeiro momento, são situações aversivas para o cliente, uma vez que, ao falar sobre suas dificuldades, entra em contato com o que o faz sofrer. Enquanto o contato com o sofrimento ocorre, o terapeuta continua exercendo seu papel de audiência não-punitiva, acolhendo, compreendendo e aceitando as verbalizações ou outros comportamentos apresentados pelo cliente. Neste caso, o comportamento do cliente está sendo mantido, tanto por reforçamento positivo (feedbacks verbais e não-verbais fornecidos pelo terapeuta), quanto por negativo (alívio ao expor o que estava "guardado").
Nas palavras de Skinner (1994), o comportamento de continuar em terapia pode estar sendo controlado pelo alívio produzido em função "do condicionamento ou extinção de reflexos emocionais" (p. 349).
Para que o processo terapêutico possa produzir mudanças na relação do cliente com seu ambiente, a consciência se mostra fundamental, na medida em que é "nele [que] está a possibilidade de autogoverno, de autocontrole" (Sério, 1997, p. 213).
A consciência, também denominada por Skinner de autoconhecimento, é aqui compreendida como um comportamento encoberto, instalado e mantido pela comunidade verbal, como qualquer outro comportamento que ocorre no mundo sob a pele. Seria uma resposta discriminativa aos próprios eventos privados, expressa na forma verbal (Skinner, 1991b; Tourinho, 1995).
Sobre a importância da consciência ou do autoconhecimento, cabe lembrar que, na concepção de Skinner (1983), o comportamento - para ser efetivo sobre o meio - prescinde da consciência do indivíduo. Apesar disto, reconhece a relevância deste comportamento, ao afirmar que "Uma pessoa que se "tornou consciente de si mesma" por meio de perguntas que lhe foram feitas está em melhor posição de prever e controlar seu próprio comportamento" (Skinner, 1991b, p. 31).
Segundo Baptistussi (2000), a ausência completa de autoconhecimento evita os efeitos da punição; assim, estar inconsciente é mantido por reforçamento negativo. Em contrapartida, quando o cliente inicia uma terapia, torná-lo consciente amplia seu poder de atuação sobre o ambiente. Deste modo, o terapeuta direcionará o seu trabalho visando a extinção dos comportamentos de fuga e esquiva, consciente e inconscientemente emitidos pelos clientes em relação às suas dificuldades. Para alguns, esta conduta pode, por si só, tornar o processo terapêutico uma situação potencialmente aversiva.
O próprio Skinner (1994) estava atento para esta situação quando argumentou:
"Entre os tipos de comportamento com maior probabilidade de gerar estímulos condicionados aversivos, como resultado de punição, está o comportamento de observar o ato punido ou de observar a ocasião para o ato ou qualquer tendência a executá-lo. Como resultado da punição, não apenas nos empenhamos em outros comportamentos que excluam as formas punidas, mas empenhamo-nos também em comportamentos que excluem o tomar conhecimento do comportamento punido" (p.278).
Diante do exposto, argumenta-se que a terapia pode se tornar uma situação aversiva, para alguns clientes, na medida em que o próprio ato de lembrar e verbalizar sobre as situações e comportamentos-problema faz com que o cliente sinta o que vivenciou quando teve seu comportamento punido e/ou colocado em extinção. Esta é uma situação que reforça a afirmativa de que a terapia envolve um conflito do tipo esquiva-esquiva – o cliente procura terapia para obter alívio de seu sofrimento; mas ao procurá-la, também sofre, podendo vir a se esquivar dela.
Fonte: Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição - A. Charles Catania
Terapia: sofrimento necessário? Nazaré Costa
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