Psicologia
A Pré-história da Psicanálise II - os neurônios omega
Os neurônios ômegaOs neurônios fi e psi são até o momento entendidos em termos quantitativos então Freud postula um 3º tipo de neurônio responsável pela qualidade: os neurônios omega, “os neurônios ω formam um sistema de neurônios que são excitados junto com a percepção e que são responsáveis pelas ‘sensações conscientes'(pág. 52).Eles são completamente permeáveis, comportando-se como órgãos de percepção.
O aparelho neuronal seria composto por três sistemas distintos de neurônios: o sistema φ, cuja função seria receber a quantidade oriunda da periferia do sistema nervoso e transmiti-la, enfraquecida e fracionada, ao sistema vizinho ψ; o sistema ψ, que seria um sistema de memória, onde se formariam as representações; e o sistema ω, que consistiria na base material da consciência. (CAROPRESO; SIMANKE,2005)
Existem três formas segundo as quais os neurônios podem-se afetar mutuamente:
1. Transferindo quantidade de Q entre si
2. Transferindo qualidade entre si
3. Exercendo uma forma de excitação recÃproca
Os neurônios omega não são capazes de receber Q, o que eles recebem é uma temporalidade ou um perÃodo de excitação que lhes possibilita uma carga mÃnima de Q necessária para a consciência.
Os neurônios omega assumem o perÃodo de excitação decorrente de sua articulação com os neurônios psi, quando há um aumento de Q em psi, aumenta a catexia de omega, quando diminui a Q em psi, a catexia em omega também diminui. “Os neurônios omega não necessitam, portanto, de descarga; seu nÃvel de investimento aumenta e diminui pela excitação recÃproca que mantém com psi. São os neurônios omega, por sua vez, que guiam a descarga da energia livre dos neurônios psiâ€(pág. 53).
O sistema ômega seria capaz de operar uma transformação que partindo da quantidade resulte, ao final de um processo dinâmico, em qualidade. (ZANNETI, 2005)
A experiência de satisfaçãoA experiência de satisfação está ligada ao estado de desamparo original do ser humano, ele possui uma vida intra-uterina reduzida, que traz um despreparo para vida logo ao nascer, o colocando numa total dependência da pessoa responsável pelos seus cuidados.
O recém nascido não é capaz de executar a ação especÃfica que põe fim à tensão decorrente do acúmulo de Q, por exemplo, a fome (estÃmulo interno), a ação especÃfica só pode ser realizada com o auxÃlio de outra pessoa que lhe fornece alimento, suprimindo assim a tensão.
Segundo Zanneti (2005) No caso destas necessidades (a fome, a respiração e a sexualidade) a fuga de estÃmulos por meio da resposta reflexa é completamente ineficaz, e sua resolução exige a substituição da ação reflexa automática por uma ação especÃfica dirigida ao mundo externo no sentido de obter o aprovisionamento dos objetos necessários à resolução da tensão.
Na primeira vez em que o recém-nascido sentisse fome, isto é, na primeira ocupação de ψ , tal ocupação levaria a respostas reflexas, como o grito, o choro e a agitação motora, as quais consistem na única forma de eliminação da quantidade que o bebê possui.
Tal reação, embora não seja capaz de eliminar o desprazer, uma vez que a fonte de estimulação não seria anulada, funcionaria como um meio de comunicação entre a criança e o adulto, pois faria com que este atentasse para o estado de carência do bebê. Quando o adulto executasse a ação especÃfica – por exemplo, quando a mãe oferecesse o seio à criança – esta, através de ações reflexas, realizaria os movimentos necessários para a alimentação (a sucção, por exemplo) e, assim, a recepção de estÃmulos internos cessaria, fazendo com que o desprazer desaparecesse. (CAROPRESO; SIMANKE,2005)
“É a eliminação da tensão interna causada por um estado de necessidade que dá lugar a experiência de satisfaçãoâ€(pág. 54). Nesse momento a experiência de satisfação associa-se à imagem do objeto que proporcionou a satisfação assim como à imagem do movimento que permitiu a descarga. Quando se repete o estado de necessidade, surgirá um impulso psÃquico que procurará reinvestir a imagem mnemônica do objeto, reproduzindo a satisfação original “um impulso desta espécie é o que chamamos de desejoâ€(idem), mas o que é reativado é o traço mnemônico da imagem do objeto, não sendo objeto real, portanto produz-se uma alucinação.
O recém nascido não é capaz de distinguir o objeto real do objeto alucinado, assim desencadeia-se o ato reflexo cujo objetivo é a posse do objeto, sobrevindo a frustração.
O mesmo acontece com a experiência de dor, o desprazer é identificado com um aumento excessivo do nÃvel de Q. Quando o aumento ocorre, surge uma propensão à descarga juntamente com uma associação desta coma a imagem do objeto que produz a dor. “Tal como no caso da experiência de satisfação, se a imagem do objeto hostil é reinvestida, surge um estado de desprazer acompanhado de uma tendência à descarga†(pág. 55).
As duas experiências, de satisfação e de dor, vão constituir dois resÃduos: os estados de desejos e os afetos, ambos caracterizados por uma aumento da tensão no sistema de neurônios psi; no caso do afeto pela liberação súbita de Q, no caso de um desejo por somação.
[...] “a noção de afeto não é uma noção quantitativa, mas qualitativa; um afeto inclui processos de descarga;mas inclui também manifestações finais que são percebidas como esses sentimentos podem ser tanto de prazer como desprazer [...] (pág. 55).
A emergência do egoO recém nascido reage ao objeto alucinado como se este fosse real, é para impedir o desprazer recorrente dessa confusão, uma formação do sistema psi se diferencia - o ego - que desempenha a função de inibição do desejo quando se trata de um objeto alucinado, o objetivo fundamental do ego é dificultar as passagens de Q que originalmente foram acompanhadas de satisfação ou de dor.
“O ego do projeto nada tem haver com o ego do sujeitoâ€(pág. 56) esta é uma formação particular interior ao sistema psi que possui uma função inibidora, ele tem a função de impedir que o investimento da imagem mnêmica do primeiro objeto satisfatório se faça, evitando a alucinação e a conseqüente decepção.
O ego pode sofrer danos recorrentes de duas condições:
1. Quando em estado de desejo, recatexiza a lembrança de um objeto, colocando em ação o processo de descarga. (não pode haver satisfação por que o objeto não é real).
2. Quando ao recatexizar uma imagem mnêmica hostil, não conseguir realizar uma inibição adequada, resultando daà uma livre liberação excessiva de desprazer.
“Em ambos os casos, os danos são recorrentes da falta de um indicador de realidade [...] o sistema psi é incapaz de distinguir o real do imaginário. Essa função [...] é fornecida pelos neurônios omegaâ€(pág. 56).
Processo primário e processo secundárioO processo primário e secundário correspondem aos dois modos de circulação da energia psÃquica. Do ponto de vista econômico, o processo primário corresponde a uma forma de energia livre, enquanto o secundário a uma energia ligada†a energia psÃquica é dita livre quando tende a descarga da forma mais direta possÃvel, e é dita ligada quando sua descarga é retardada ou controladaâ€(pág. 57).
A distinção entre processos primário e secundário se refere as representações e corresponde especificamente ao sistema de neurônios psi.
Do ponto de vista genético o processo primário resulta da transformação do processo primário. É nos sonhos e nos sintomas que os processos primários se apresentam de forma privilegiada, enquanto o pensamento da vigÃlia, atenção, o raciocÃnio e a linguagem são exemplos de processos secundários.
Referências:
texto base:
in GARCIA-ROZA, A. Freud e o Inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, pags 43-60.AZOUBEL NETO, David. A psicanálise do processo primário: reflexões sobre a metapsicologia da dor.( jun. 2006)DisponÃvel em http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702006000100005&lng=pt&nrm=CAROPRESO, F.; SIMANKE, R. T.. O conceito de consciência no Projeto de uma Psicologia de Freud e suas implicações metapsicológicas (2005.) DisponÃvel em http://www.scielo.br/pdf/trans/v28n1/29408.pdf.ZANETTI, Clóvis E. (2005). “A Introdução da Fantasia na Metapsicologia Freudiana: A Realização Alucinatória de Desejo e o Signo de Realidadeâ€. In: Revista de Filosofia 17 (20): pp. 25-43. DisponÃvel em: http://www2.pucpr.br/reol/index.php/RF/view/? dd1=68. Acesso em 20/06/2007.
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