Psicologia


HIPNOSE
Roberto Andersen

Introdução

Ainda perseguida por muitos devido, principalmente, ao completo desconhecimento de sua realidade ou por preconceitos completamente equivocados ligados a aspectos religiosos, a hipnose tem imenso valor em todos os campos, principalmente em complicados processos terápicos ligados a acontecimentos "esquecidos" pelo estado consciente da pessoa.

Entretanto, aos poucos, a sociedade começa a se acostumar com a idéia de que hipnose não é paranormalidade e o MEC já admite aprovar o primeiro Curso Superior de Hipnose, no Rio de Janeiro, mudando a forma de se encarar tal ciência.

Nesse artigo dá-se um passeio pelas características principais dessa ciência, elucidando alguns pontos fundamentais para sua compreensão.

Capítulo I

Conceitos preliminares de hipnose

  1. Estado natural de consciência diferente do estado de vigília - ao chamarmos a hipnose de "estado natural de consciência diferente do estado de vigília", estaremos muito próximos do seu significado etimológico (estado parecido com o sono), como foi batizado por James Braid. Afinal, Hipno é a palavra do idioma grego antigo que significa sono.
  2. Estado mental semelhante ao sono, provocado artificialmente, e no qual o indivíduo continua capaz de obedecer às sugestões feitas pelo hipnotizador – significado do termo segundo o dicionário Aurélio.
  3. Suscetibilidade ampliada para a sugestão, tendo como efeito uma alteração das capacidades sensoriais e motoras para iniciar um comportamento apropriado – conceituação segundo Milton H. Erickson.
  4. Estado alterado da consciência – conceituação polêmica, principalmente devido ao tom pejorativo do termo alterado.
  5. Procedimento durante o qual um pesquisador ou profissional da saúde sugere que um cliente, paciente ou indivíduo experimente mudanças nas sensações, percepções, pensamentos ou comportamentos – definição segundo a American Psycological Association.
  6. Seqüência interacional, experimentalmente absorvente, que produz um estado especial de consciência, em que automaticamente começam a ocorrer auto-expressões – conceituação segundo Gilligan.
  7. Absorção da atenção do sujeito – definição prática do livro texto.

Capítulo II

Mitos sobre a hipnose

  1. Hipnose é causada pelo poder do hipnotizador – naturalmente o hipnotizador deve ter o devido conhecimento e a força mental necessária a concentração no momento certo, mas isso não é suficiente, já que para que aconteça a hipnose existe a necessidade de um campo de interação e confiança, denominado "rapport".
  2. O hipnotizador controla o desejo do paciente – nenhum paciente hipnotizado faz aquilo que não faria acordado, ou seja, ele só é capaz de fazer aquilo que considera inofensivo e, mesmo assim, se desejar.
  3. A hipnose é prejudicial à saúde – desde que utilizada por profissionais competentes e bem intencionados, a hipnose não causa danos, devendo-se, apenas, estar atento para a sua utilização por pessoas inescrupulosas.
  4. Pode-se tornar dependente da hipnose – não existe qualquer tipo de dependência na hipnose.
  5. A pessoa pode não voltar do transe, ficar presa nele – não é possível ficar preso ao transe. O transe profundo leva ao sono que, como qualquer sono, dura até o momento de acordar, que é natural a cada indivíduo.
  6. O sono é a hipnose – a hipnose não é igual ao sono. É um estágio anterior ao sono, quando a pessoa está concentrada, com um certo grau de consciência e podendo responder a comandos. É um relaxamento de forma alerta.
  7. A pessoa fica inconsciente em transe – normalmente o hipnotizado mantém o seu estado consciente, apenas com a atenção focalizada. Ao aprofundar o transe, pode haver o desligamento da atenção vigilante. Apenas no transe profundo ocorre a amnésia total.
  8. Hipnose é terapia – embora a hipnose tenha a facilidade de trazer alívio e paz, o que já serve para curar uma série de angústias e ansiedades, ela é apenas uma ferramenta utilizada nas terapias. A hipnose em si não é uma terapia.
  9. Regressão e hipnose – pode ocorrer a regressão quando a pessoa entra em estado hipnótico, mas apenas em alguns casos. Quando o hipnotizado é uma pessoa muito ligada, pensativa, racional e controlada, a regressão é muito difícil de ocorrer, já que essas pessoas dificilmente entram em um transe de médio a profundo, o que é necessário para a regressão.
  10. Há perigos para a hipnose? – Ela pode ser realmente perigosa se aplicada indevidamente, ou seja, nas mãos de pessoa inescrupulosa ou sem cautela. Por isso exige a formação correta do profissional, o preparo e a habilitação reconhecidos para lidar com psicoterapia e um bom estudo da mente humana.
  11. A hipnose realiza milagres – o que na hipnose pode parecer milagre, nada mais é do que o acesso a novas respostas interiores, em função da junção entre a motivação do paciente e a abertura às riquezas de cada um em seu inconsciente.
  12. A hipnose significa inconsciência – ao contrário de ficar inconsciente, o hipnotizado fica atento, prestando atenção a tudo o que o hipnotizador diz.
  13. O hipnotizado revela seus segredos – o hipnotizado só fala aquilo que deseja. Ele terá oportunidade de lembrar de coisas há muito esquecidas, o que chamamos de hiperminésia, mas só falará se achar seguro.
  14. E se houver a morte do hipnotizador durante o transe? – ao deixar de ouvir a voz do hipnotizador o paciente interrompe o transe induzido ou pode até continuar um pouco, nas desperta em seguida. O transe pode se transformar em sono e, se assim for, o paciente acordará normalmente depois de haver descansado um pouco.

Capítulo III

Importância histórica de Mesmer

"Mesmerismo" foi o nome dado às suas teorias que, apesar da tentativa de ridicularização feita pelo júri da Academia de Ciências de Paris na época de Luiz XVI, foram propagadas por todo o mundo, alcançando grande sucesso e subdividindo-se em várias escolas.

Franz Anton Mesmer, nascido na Alemanha em 1735 (ou na Áustria, em 1734, conforme Calazans), foi o delineador dos princípios básicos do moderno hipnotismo, que alteraram os fundamentos da medicina ortodoxa até nossos dias.

Sua tese de doutorado na Universidade de Viena (De Planetarium Influx) abordou a influência dos planetas na saúde dos Pacientes, partilhando essas opiniões com o famoso astrônomo Kepler e com o Doutor Angélico, pai da Teologia Católica, São Tomás de Aquino.

Para Mesmer, uma energia natural composta por fluidos invisíveis influenciam o organismo humano, podendo até curar. E essa energia poderia partir até das mãos de um operador treinado, que seria chamado de terapeuta. Essa energia ele batizou de "Magnetismo Animal".

Sua entrada nesse estudo pode ter sido devido à leitura das obras de Paracelso ou devido a sua surpresa com uma cura considerada milagrosa operada por um nobre estrangeiro em sua esposa, utilizando um ímã encomendado ao astrônomo Maximiano Hell, ou ainda, segundo outros autores, devido as curas magnéticas empregando ímãs, realizadas pelo padre Hell, por um outro jesuíta e pelos astrólogos da corte de Maria Teresa.

A importância histórica de Mesmer é indiscutível, apesar da conclusão contrária a suas teorias, apresentado pela comissão da Academia de Ciências, composta por alguns de seus membros mais notáveis: Antoine-Laurent Lavoisier (cientista conhecido como o pai da química moderna); Benjamin Franklin (inventor do pára-raios, cientista conhecido na área da eletricidade e diplomata respeitado); Jean-Sylvain Bailly (astrônomo conhecido pelos cálculos da órbita do cometa Halley e pelos estudos sobre os quatro satélites de Júpiter, estadista, Prefeito de Paris); Joseph-Ignace Guillotin (físico e político, inventor da guilhotina); Antoine de Jussieu (físico e botânico, médico pela Universidade de Montpellier, Diretor do Jardim das Plantas de Paris).

Mais tarde a Academia de Medicina de Paris conseguiu provar a verdade do hipnotismo, contribuindo para a recuperação do valor de suas idéias e possibilitando o aparecimento de diversos seguidores que difundiram o hipnotismo nas mais diversas áreas, permitindo: o trabalho sobre sonambulismo de seu discípulo Puységur; as curas do Padre Gassner; os estudos do Padre Faria; as extrações dentárias sem dor feitas por Jean Etine Oudt; as curas de Elliotson (apesar de ameaçado pelo Conselho da Faculdade de Medicina de Londres); as operações cirúrgicas de James Esdaile na Índia (que foram muito facilitadas pela força natural do misticismo do povo hindu); e muito mais até hoje.

Capítulo IV

Milton Erickson

Autor do "Princípio Ideodinâmico" (uma idéia é um ato em estado nascendi, ou seja, algo que vem de dentro ou uma resposta interior), Erickson utilizou a hipnose de forma muito pessoal.

Ele partiu do princípio de que o transe hipnótico não é padronizado, ou seja: cada pessoa tem um processo diferente, a depender de seu arquivo inconsciente.

Concorda com Kubie na idéia de que, durante a hipnose, o ponto de vigília , que permanece consciente no indivíduo, é suficiente para defendê-lo acordando-o, passando-o para uma neurose experimental e não cumprindo a ordem sugerida.

Capítulo V

Por que Freud abandonou a hipnose?

Freud considerou que a sugestão utilizada pelo hipnotizador acaba sendo um instrumento que compromete a origem e a significação do sintoma, dizendo que: "Renunciei em pouco tempo à técnica da sugestão e, com ela, à hipnose, pois perdi a esperança de tornar os efeitos da sugestão suficientemente eficazes e duradouros para levar a uma cura definitiva... Em todos os casos graves vi a sugestão que lhes fora aplicada reduzir-se a zero, e ressurgir o mesmo problema ou algum outro."

Tecnicamente o motivo de sua renúncia à hipnose foi a constatação, por ele mesmo, de que não conseguia levar a maioria de seus pacientes ao estado de transe hipnótico, embora ele mesmo tenha confessado, diversas vezes, que "...o trabalho com a hipnose exercia um efeito real de sedução..."

A própria descoberta do fenômeno fundamental da psicanálise, a transferência, quando a paciente saltou em seu pescoço, foi interpretado inicialmente por Freud como efeito do elemento místico que está por trás da hipnose, levando-o a concluir que para isolar tal efeito deveria abandonar a hipnose.

Capítulo VI

Signo Sinal

"O signo-sinal é o uso de palavras e gestos que vão condicioná-lo ao transe imediato." (da Silva, pg. 74)

O hipnotizador, durante o transe hipnótico do paciente, repete, duas ou três vezes o signo-sinal escolhido, de forma a condicioná-lo para que entre em transe imediato a partir da próxima sessão.

Após a repetição do signo-sinal, o hipnotizador dá a ordem para o paciente acordar, sempre sugerindo que acorde passando muito bem.

A partir da segunda sessão bastará utilizar o singo-sinal para que o paciente entre com muito mais facilidade e rapidez em transe hipnótico, devendo lembrar que o signo-sinal deve ter a mesma forma pausada e a mesma tonalidade utilizada durante o condicionamento na primeira sessão.

Capítulo VII

O que é necessário para um bom "rapport"?

Para se conseguir um bom "raport" recomenda-se, inicialmente, uma preocupação especial com o ambiente, evitando-se elementos que apresentem movimentos desordenados, não rítmicos, como, por exemplo, gaiolas com pássaros, mas podendo ser utilizado um aquário com peixes pequenos, cujos movimentos suaves e rítmicos produzem um clima de tranqüilidade.

A sonorização do ambiente, se houver, deve constar de música suave, preferencialmente instrumental, de forma a predispor o espírito à calma, facilitando o sono e permitindo o relax do paciente.

Ainda na preparação do ambiente, é importante evitar-se tanto o calor como o frio excessivo ou correntes de ar, que além de prejudicar o corpo, prejudicam a entrada em transe.

Relógios de mesa com um leve som de tic-tac ou qualquer som rítmico suave pode constituir elemento importante para facilitar o transe hipnótico.

Todos esses elementos colocados na sala de espera podem predispor o paciente ao transe.

Quanto ao procedimento do hipnotizador, recomenda-se que apresente o máximo possível de tranqüilidade, com voz e gestos suaves, pausados, evitando qualquer tipo de impacto, sempre com a preocupação de não desviar a atenção do paciente.

Quanto a técnica utilizada para o "rapport", recomenda-se propor ao paciente o fechamento da mão de maneira forte e o relaxamento progressivo, para que ele experimente o bem estar do relaxamento; ou então sugerir ao paciente que, de olhos fechados, vá relaxando progressivamente todas as partes de seu corpo, sob a orientação do hipnotizador; ou outras técnicas conhecidas.

Capítulo VIII

Como a hipnoterapia pode reverter o quadro emocional da ansiedade?

Estudos sobre o assunto tem sido efetuados desde a mais remota antigüidade e a constatação de reversão do quadro emocional da ansiedade é evidente desde os tempos de Aristóteles.

Sacerdotes, magos ou feiticeiros da pré-história curavam pacientes contando-lhes histórias de uma forma muito parecida com o procedimento hipnótico.

No Egito de cinco mil anos atrás os famosos templos do sono eram os locais onde os pacientes eram submetidos a passes hipnóticos muito semelhantes aos dos centros espíritas de hoje.

Em todos os casos o hipnoterapeuta, ou como o queiram chamar em cada época, toma conhecimento dos detalhes da história do paciente com muito mais rapidez do que em um processo de terapia tradicional, podendo identificar com relativa facilidade as razões principais para o seu estado de ansiedade.

A partir daí o processo de tratamento vai depender do terapeuta, mas já com pleno conhecimento da realidade do paciente e podendo escolher sua linha de ação com muito mais facilidade.

Capítulo IX

O que é PNL?

Criada em 1975 por John Grinder e Richard Bandler, o primeiro lingüista e o segundo matemático, mas ambos doutores em psicologia, a neurolingüística se preocupa com o desenvolvimento de métodos práticos e fáceis para que se alcance a excelência humana.

Eles partiram do exame da linguagem hipnótica utilizada pelo psicanalista Milton Erickson para alcançar maiores estados específicos dentro da comunicação terapêutica.

Conforme relata o Dr. Flávio Calazans em seu artigo "A hipnose como heurística", as técnicas de hipnotismo e de auto-sugestão foram denominadas, no Brasil, de "Programação Neurolingüística". Este eufemismo, ainda segundo o Dr. Calazans, serve como sinônimo de hipnotismo às infrações jurídicas da proibição legal (Decreto-lei 51.009 de 22 de julho de 1961 e lei número 5.081 de 24 de agosto de 1961, parágrafo sexto).

Tomando por base o imenso poder mental existente no homem e a sua incrível forma de atuação, os seus idealizadores sempre evitaram perguntar por que as pessoas fracassam, mas sim: "Como fazem os que tem êxito?"

Se a pergunta fosse "Por que algumas pessoas tem êxito?", nossa mente trabalharia no sentido de formular uma teoria que nos daria uma explicação da causa, mas não nos ajudaria em quase nada.

Quando a pergunta passa ao "Como fazem os vencedores?", naturalmente estaremos estudando o processo do sucesso, tornando possível a formação de modelos básicos de excelência que possam ser seguidos por todos.

Assim a PNL é, basicamente, a montagem de métodos eficientes que nos permitam traçar planos eficazes para uma comunicação objetiva e útil que nos permita atingir a nossa meta principal com total excelência.

O significado do nome PNL é:

Capítulo X

Técnicas de relaxamento progressivo

Os processos de relaxamento progressivo são formas muito eficazes de se provocar uma verdadeira integração do paciente com seu próprio corpo, levando-o a se desligar da realidade externa e, consequentemente, embora de forma temporária, de todos os seus problemas e ansiedades.

Esse período de relaxamento momentâneo, entretanto, é exatamente o que o paciente precisa para dar um "brake" em seu processo de ansiedade progressiva e neurotizante.

A atenção que o paciente precisa ter com cada parte de seu corpo, ao receber as sugestões bastante calmas de seu terapeuta, praticamente o obrigam a um estado de concentração punctual nunca antes conseguida por ele de forma individual.

O método progressivo de Shultz, mostrado em algumas obras sobre técnicas hipnóticas, faz com que o paciente entre em estado de transe, necessitando que o terapeuta utilize a técnica de retorno ..."indicando-se que fará uma contagem progressiva de 1 até 5, e que ao final desta o sujeito irá abrir os olhos, voltando à condição de vigília, se sentindo muito bem, sempre com sugestões pós-hipnóticas de forma positivas e otimistas." (Da Silva, 1999).

VOLTA

Bibliografia

Da Silva, Gelson Crespo. Manual de Hipnose Médica. Niterói: SPOB, 1999
Calazans, Flávio M.A. Manual da Hipnose. São Paulo: MF, 1996
Freud, Sigmund A Interpretação dos Sonhos R.J.: Imago 1969
Weiss, Brian L. A cura através da terapia de vidas passadas R.J.: Salamandra 1996
Quevedo, Oscar G. O que é parapsicologia São Paulo: Loyola 1982
Batà, Angela M.La Sala O eu e o inconsciente São Paulo: Pensamento 1993



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