Preconceito: pré-conceito, juÃzo preconcebido, conceito formado antecipadamente.
Tenha reparado que a palavra preconceito está na moda. Praticamente tudo é preconceito. Agora não temos mais direito ao conceito, só ao pré-conceito. Vou dar um exemplo da psicologia, porque é minha área. Ouvi alguém fazendo um comentário sobre o behaviorismo, dizendo que sente horror ao ler os textos dessa linha, porque acha que são muito frios, considerando que o ser humano funciona como um robô. A outra pessoa então retrucou: Mas que preconceito! Tem muito preconceito com o behaviorismo!
E assim temos considerado várias outras coisas: se não gostamos de algo, logo, a atitude é preconceituosa. Essa classificação generalizada pressupõe um absurdo: que, se realmente conhecêssemos aquilo (e assim sairÃamos do preconceito e chegarÃamos ao conceito) gostarÃamos daquilo. Ou seja, temos que gostar e aceitar tudo, porque do contrário, é preconceito.
E quando teremos direito a não gostar ou aceitar algo mesmo conhecendo bem o assunto, ou a coisa? Quem disse que aquela pessoa que falou que não gosta do behaviorismo, não o conhece direito? E se conhecer? Não terá direito de achar que os textos são muito frios, considerando o ser humano um robô? Será que a pessoa não tem direito a uma interpretação dela mesma?
Outro absurdo do não direito ao conceito é a pressuposição de que todo mundo é igual. Se aquela pessoa realmente conhecesse o behaviorismo, gostaria dele. Se aquela pessoa conhecesse de verdade a psicanálise, gostaria dela. Porque se o indivÃduo não tem direito a criticar o behaviorismo ou a psicanálise, já que seria enquadrado em preconceito, ele não tem individualidade, não tem opinião própria, é só um desinformado que ainda está na fase do juÃzo preconcebido.
Nesse mundo em que a palavra preconceito ganhou alto status, em que você reconhecê-lo em você mesmo ou nos outros é atitude politicamente correta, temos usado o termo muito mal. Claro que não estou propondo o abandono do termo, coisa impossÃvel e sem sentido. Há preconceito, ele existe e deve ser combatido em muitos casos (exemplos: preconceitos racial, de classe social, de gênero etc). O que proponho é que o uso da palavra em toda e qualquer situação também seja combatido, até para a palavra não se tornar tão banal que já não signifique mais nada.