
Entrevistei o diretor do curso de Psicologia da UMinho, o professor Emanuel Pedro Viana Barbas Albuquerque. Licenciado e doutor pela Universidade do Porto, atualmente é docente e pesquisador na área da memória. Além de diretor do curso, ele também é o coordenador do Mestrado Integrado em Psicologia Experimental. É um professor muito querido pelos alunos, e que digamos assim, dá o que chamamos de uma boa aula. Preocupado com o entendimento do aluno e com o seu aperfeiçoamento. Nessa entrevista, fiz perguntas para o professor na qualidade de diretor do curso (na próxima postagem, a parte da entrevista como coordenador do mestrado integrado em psicologia experimental).
Para o doutoramento é diferente, ele tem um valor livre de financiamento. Significa que a universidade decidiu que para cobrir os custos associados a um aluno de doutoramento, pagam cerca de 2.400 euros por ano. Por isso as propinas de um aluno de doutoramento são muito maiores que a de um aluno do mestrado integrado. O Estado não financia os alunos de doutoramento, as universidades é que decidem um certo valor, bem pequeno, para auxiliar.
Acho que não. Acho que a divisão entre o público e o privado não tem tanto a ver com essa concepção. Claro que do ponto de vista do acesso ao ensino superior, é muito claro que quem tem o acesso normalmente são os alunos das classes médias do ensino regular. Mas isso tem a ver com o próprio sistema de ensino até o ensino secundário, que aqui é o equivalente ao décimo segundo ano. A escola é fundamentalmente uma escola cultural, quem está mais próximo ao meio dessa escola, que são as classes mais altas, tem mais sucesso acadêmico. Isso é tão evidente que a partir do décimo primeiro, décimo segundo, o número de alunos que utiliza o apoio escolar particular fora da escola é imenso. E se paga muito caro por isso. Portanto, é preciso ter algum poder de compra para poder recorrer a isso. O que acontece mais, eu penso, é quando se analisa que pessoas vem para a universidade. A UMinho tem uma questão regional, ou seja, os alunos que vem para cá são da própria Braga e das cidades dos arredores. Isso é uma caracterÃstica das universidades daqui, a mobilidade não é tão grande. As pessoas acabam optando, não conseguindo entrar numa universidade pública, por uma particular. Por exemplo, se um aluno quer fazer psicologia, e tem uma universidade particular em sua cidade, e uma pública em outra, ponderando os custos acaba ficando na particular. Percebe que é mais barato ficar em casa e pagar a propina da particular, que é mais elevada, do que ter que se mudar e alugar um quarto, comer fora. Nos últimos anos, nós estamos enfrentando o abandono do ensino superior. Há muitos alunos que abandonam a universidade. A maior razão é a econômica. Normalmente são pessoas de outras cidades, que vêm para cá e de fato não agüentam. Porque não são só propinas, são fotocópias, comida, todo o custo associado ao fato de se estar deslocado. Portanto, esse tem sido um problema para as universidades.
O ensino superior português tem um estatuto especial, digamos assim, para os trabalhadores estudantes. Isso está regulamentado, e a lei determina que um aluno que trabalha e que esteja a cursar o ensino superior tem algumas horas por semana que pode sair do trabalho para freqüentar a universidade. Digamos que alguém tem um contrato de trabalho de 35 a 40 horas semanais. A pessoa pode escolher não trabalhar em determinados dias até o máximo de X horas. Em função disso, a pessoa pode procurar organizar a sua vida para poder ir à s aulas. Na universidade, esses alunos têm o estatuto de trabalhador-estudante, o que significa que não podem reprovar por faltas. Tem alguma possibilidade de não virem as aulas, claro, e tem regimes de avaliação especiais. Têm mais oportunidade para fazer exames. Com Bolonha, com essa nova forma de encarar o ensino, mais baseada no desenvolvimento de competências e apoio tutorial, esses alunos têm mais dificuldade de acompanhar. Como não podem estar sempre presentes, acabam prejudicados. Bolonha tem isso do apoio tutorial, o professor acompanhando continuamente o aluno, as competências de ensino, portanto, é mais difÃcil para esses alunos.
Nós temos vagas em toda as áreas. Há áreas que são sistematicamente preenchidas, que são a justiça e a clÃnica. A área da saúde também tem sido escolhida Depois, há outras áreas que não tem todas as vagas preenchidas. As pessoas quando vêm ao curso vêm com uma idéia, que é a de serem psicoterapeutas. à medida que vão avançando no curso, alguns vão mudando de idéia. Saúde, justiça e clÃnica são as áreas mais centradas na intervenção, e são as mais escolhidas. As outras quatro são menos centradas na intervenção, e são menos escolhidas.