Corpo e mente (III): Olá... tem alguém em casa?
Psicologia

Corpo e mente (III): Olá... tem alguém em casa?


A consciência é ainda um grande mistério, embora grandes avanços tenham sido feitos no seu estudo. Ela é um fenômeno abrangente, que permite tanto o reconhecimento sensorial do mundo quanto o reconhecimento de nós mesmos, de nossa identidade para nós e para os outros. Mas mesmo sendo abrangente, a consciência não é capaz de lidar com algumas informações (que acabam por ser, por definição, inconscientes), como por exemplo a secreção glandular, o fluxo sanguíneo e a lubrificação das articulações. Ou alguém tem consciência disso?

Mesmo os níveis elementares da consciência já despertam nosso assombro, que é aquele bom e velho conceito de consciência como "estar ciente de", como por exemplo o som de uma música ou a visão de um belo carro. Como é possível que uma meia-dúzia de estímulos físicos sejam capazes de sensibilizar nossas terminações nervosas, que acabam traduzindo isso em impulsos que são levados ao cérebro? E como é possível que estímulos nervosos sejam "montados" e gerando uma imagem, com cores, texturas, bordas, sensação de distância num emaranhado de células?

O pior do problema não é isso, mas é a "outra" consciência, aquela que me diz que eu sou eu, que eu sou diferente de você, e que, quando acordo, sei que sou eu, o que fiz ontem e anteontem, que sou do sexo masculino e que sou psicólogo. Compreender como organizamos nossas informações sensoriais já é uma tarefa gigante; nos defrontar com a pergunta "quem somos nós" é maior ainda.

Volto ao nosso bom e velho senso comum para tentar responder o problema da consciência: ou estamos abordando uma questão complexa demais que pode ser resolvida de forma absurdamente simples, dizendo que é a "alma" que faz o serviço todo, ou então consideramos que estamos diante de um pseudo-problema. Se admitimos que algo chamado "alma" existe, OK, o problema está resolvido, e não pela ciência, mas pela religião. Mas se queremos resolver o problema cientificamente, precisamos de outras explicações que sejam poderosas o suficiente e que possam ser testadas.

Falo que talvez o problema da consciência seja um pseudo-problema porque ele está mal-formulado, e se for assim nenhuma resposta será satisfatória. Talvez a resposta não seja "quem" é a consciência, mas sim que a consciência é uma ilusão, e das melhores. Mas se for uma ilusão... quem somos nós? Não foi identificada uma região que pudesse ser chamada de "a sede da consciência", porque a consciência é composta pela coordenação de diversos processos mentais. Isso quer dizer que é possível modificar e danificar processos que compõem o conjunto chamado consciência, gerando quadros bizarros onde alguém é incapaz de reconhecer a si mesmo num espelho. Portanto, mais do que ser uma região específica do cérebro, ela é o produto do funcionamento simultâneo de diversos processos mentais. E se for assim... quem é você e onde está agora? tem alguém em casa?



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